Editorial

O Brasil está à deriva. Grave crise política, desmoralização das lideranças políticas de todos os partidos, instabilidade e insegurança institucional, degradação da governabilidade, falência do Estado com aguda deficiência das finanças públicas (acentuado déficit primário e crescente endividamento) pressionadas pela expansão inercial das despesas primárias, abrindo espaço para o crescimento do crime organizado que assusta a sociedade e desestimula os investidores. E, no entanto, a economia brasileira parece ignorar esta completa desestruturação política, institucional e fiscal, com a melhoria dos principais indicadores que sinaliza para uma recuperação econômica. A queda continuada da inflação permite prever uma taxa de apenas 3% ao ano até o final de 2017, abaixo do piso da meta (4,5% ao ano). O crescimento do PIB – Produto Interno Bruto nos dois semestres deste ano aponta para uma expansão da economia em torno de 1%, depois de três anos de forte retração econômica, acompanhados de saldos líquidos de emprego. Até a indústria registrou uma tímida recuperação, e a taxa de investimento, que vinha caindo há 10 trimestres, teve uma leve inflexão no último trimestre. A economia descolou da política? Não. O desempenho recente da economia brasileira parece ignorar a deterioração do quadro político do Brasil, mas é resultado de políticas, precisamente da política macroeconômica que combina rigor fiscal e controle da inflação, incluindo o teto dos gastos públicos e as propostas de reformas estruturais. A queda da inflação melhora a renda das famílias e, portanto, a demanda agregada, e a redução dos juros modera a expansão da dívida pública, que se acelera com os déficits primários, combinando com a diminuição dos estoques, que estimulam a retomada da produção. Tudo contribuindo para o aumento da confiança dos agentes econômicos no potencial e nas perspectivas da economia brasileira. Entretanto, é precipitado e simplista afirmar que os sinais positivos dos indicadores econômicos mostram uma tendência segura de recuperação da economia brasileira, independentemente das condições políticas e de governabilidade do Brasil. Se a crise política e seus desdobramentos provocarem uma mudança de rota na gestão macroeconômica e impedirem a aprovação de reformas fundamentais, especialmente da reforma da previdência, a economia brasileira vai voltar rapidamente para o atoleiro. Além disso, o Brasil padece de estrangulamentos estruturais que impedem um ritmo de crescimento econômico, mesmo moderado, no médio prazo: limitações da poupança interna, precária qualidade da educação e de qualificação profissional, baixa produtividade do trabalho, lento aumento da população em idade ativa, elevada carga tributária, insegurança jurídica, e excesso de burocracia, para não falar no agravamento da violência e da insegurança pública. A manutenção da política macroeconômica e a aprovação da reforma da previdência (contendo a expansão do déficit público e aliviando sua capacidade de gasto) permitem a consolidação do atual movimento de leve recuperação da economia brasileira. Mesmo assim, considerando os estrangulamentos estruturais, a economia brasileira deve ainda patinar por alguns anos com baixo crescimento, antes de iniciar um verdadeiro (e desejado) ciclo de dinamismo sustentado.