Há cerca de um ano, o Reino Unido decidiu, em plebiscito, por uma minoria mínima (menos de 800 mil votos ou 3,6 pontos percentuais), sair da União Europeia, como forma de proteger os setores atrasados da sua economia e conter o movimento migratório do continente. Um movimento isolacionista diante da globalização. No plebiscito da semana passada, a Catalunha andou na direção contrária: decidiu romper com o Estado espanhol, mas permanecer na União Europeia. Situação semelhante à da Escócia, que deseja a independência do Reino Unido mas, no Brexit, votou pela permanência na Europa. Com forte identidade nacional, a Catalunha pretende formar um Estado independente, mas, ao contrário dos ingleses, continua apostando na integração econômica. Mais cedo que os ingleses, os catalães já estão percebendo os enormes obstáculos e riscos que vão enfrentar com a decisão radical. A começar pela dificuldade de conciliar a ruptura política, ruptura com Madrid, com a integração econômica, permanência na União Européia. A economia da Catalunha é a maior da Espanha, mas não pode viver sem o mercado comum europeu, do qual faz parte a economia espanhola. Num ato grotesco, que demonstra a fragilidade dos independentistas, o presidente do parlamento catalão, Carles Puigdemont, sugeriu a suspensão da independência imediatamente após a sua declaração, defendendo um improvável diálogo com o intransigente governo espanhol. Tudo indica que os ingleses, se fossem consultados agora, não aprovariam o Brexit: o próprio governo vacila, haja vista a declaração do secretário de Estado, Damien Green, de que o país está melhor dentro da União Europeia. A maioria no plebiscito da Catalunha foi bem mais confortável que no Reino Unido. Mas não expressa uma clara unidade e convergência interna, a julgar pela baixíssima partipação no pleito (apenas 43% dos eleitores), e pela enorme manifestação em Barcelona, contra a independência. E agora? Romper pode ser um desastre, além de abrir uma grave crise política. No entanto, recuar será também um desastre político para Carles Puingdemont e para as aspirações nacionais dos catalães.
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