Sérgio C. Buarque

enito Mussolini – político italiano que liderou o Partido Nacional Fascista e é creditado como sendo uma das figuras-chave na criação do fascismo (1883-1945).

Na guerra verbal da política brasileira, tem sido frequente destratar os adversários com o epíteto de fascistas, qualificativo tão incompreendido quanto inapropriado. E, no entanto, um grupo de professores e estudantes da Universidade Federal de Pernambuco acaba de criar um “comitê contra o fascismo”, divulgando um manifesto no qual, entre outras impertinências, acusa as instituições jurídicas (Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário) de perseguição ao ex-presidente Lula e utilização de métodos fascistas. Embora cite manifestações de intolerância e hostilidade realmente visíveis no ambiente político brasileiro, é um despropósito falar de fascismo no Brasil. Os universitários utilizam um conceito inadequado e chegam a um diagnóstico errado e simplista, confundindo mais que esclarecendo. O que é mais grave, escondendo a verdadeira ameaça à democracia brasileira: o populismo.

O manifesto dos professores afirma que “o fascismo se caracteriza essencialmente por ser um movimento de massas movido pelo ódio” e adverte contra a “banalização de atos de hostilidade e desqualificação contra adversários”. De quem o manifesto está falando? A tolerância política e o respeito aos adversários não é, em absolulto, uma qualidade dos políticos do chamado “campo popular”, como se situam os assinantes do manifesto, seja lá o que signifique isso. O noticiário está repleto de casos de violência e agressão, verbal e física, da parte de militantes do PT e seus aliados, como a depredação de instalações e equipamentos da própria Universidade Federal, a sistemática agressão a políticos que não integram esse “campo”, inclusive dentro de universidades, como ocorreu com o senador Cristovam Buarque em Minas Gerais, apenas para citar dois casos recentes.

Os “fascistas” são sempre os adversários. Assim, a invenção e exploração de um “inimigo interno” para capitalizar e mobilizar a insatisfação da população, outra característica do fascismo que os universitários identificam no Brasil atual, seria pratica dos adversários do tal “campo popular”. E, no entanto, o mesmo manifesto, repetindo o que fazem com frequência os petistas e seus aliados, aponta a rede Globo, a “imprensa golpista”, o sistema bancário e, agora também, o Judiciário, como inimigos internos do Brasil, todos conspirando contra Lula que, no fundo, seria o “salvador da pátria”.

O manifesto dos universitários esquece esta que é a principal característica do fascismo e do nazismo e que, efetivamente, os distingue de qualquer outra ditadura: a liderança de uma figura carismática, salvadora da pátria, com grande comunicação direta com as massas e capacidade de mobilização e manipulação, mito que tenta substituir as instituições da república pela ligação direta com o povo. No Brasil de hoje temos Lula, o salvador da pátria. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva não é fascista, embora ninguém duvide do seu poder de comunicação e de mobilização das massas com afirmações simplistas e, não raro, apregoando a intolerância com os adversários, especialmente a imprensa e o Judiciário. Mas aqui, a presença desta liderança popular tem outro nome não menos inquietante:  populismo.

Felizmente estamos muito longe de uma ameaça real de fascismo. Infelizmente, contudo, as condições de desagregação social e moral, de desmoralização da política, de elevada desconfiança do eleitorado e descrédito da população criam um ambiente favorável para o populismo. Liderança carismática, salvador da pátria que vende soluções fáceis, mágicas e enganadoras para a complexidade e dramaticidade da realidade brasileira, e que ameaçam levar o país ao desastre econômico e financeiro, para não falar na radical polarização política. A intolerância está presente nos dois lados da polarização política no Brasil. Mas não há como negar a enorme contribuição do PT e de Lula para a criação deste ambiente de radicalização e ódio, com seu discurso que segmenta os brasileiros entre “nós” (campo popular???) e “eles” (todo o resto não lulista).