Editorial

Guerra e Paz – Candido Portinari (1903-1962) Mural no hall de entrada da ONU.

Encerrando uma campanha eleitoral dominada pela intolerância e pelo fantatismo, o Brasil escolhe, neste domingo, o futuro presidente da República. Ao vencedor cabe agora a responsabilidade de desarmar os espíritos, distensionando o ambiente político com um chamado duro às suas bases para o respeito às regras democráticas e aos direitos civis. Mesmo que o presidente eleito se comporte com a dignidade e serenidade exigida pelo alto cargo, não terá facilidade para modular o comportamento das suas bases, tendo em vista os altos decibéis de agressão, ameaças e provocações grosseiras da campanha. E do perdedor espera-se agora o reconhecimento da legitimidade democrática, aceitando o pronunciamento das urnas e se preparando para exercer uma oposição responsável e qualificada. O que também será bem difícil considerando que, ao ódio incentivado na campanha, se somará o ressentimento da derrota. Apesar das tensões do confronto desta complicada campanha eleitoral, até agora a democracia venceu e se fortaleceu pelo funcionamento normal das instituições que garantiram o equilíbrio e a lisura do pleito eleitoral. Para o futuro, a consolidação da democracia vai depender do novo governo, da sua capacidade e disposição de se despojar do discurso agressivo e desrespeitoso das minorias, do seu respeito às instituições, e da sua postura de negociação e entendimento com o Congresso. Os perdedores também têm grande responsabilidade no fortalecimento da democracia brasileira, atuando como oposição vigilante e ativa, mas sempre valorizando os espaços institucionais de disputa politica. O momento delicado que vive o Brasil, mergulhado numa grave crise econômica e fiscal, com seus lamentáveis desdobramentos sociais, pede serenidade (sacrificada na campanha eleitoral) e responsabilidade de todas as lideranças políticas brasileiras. O perfil da nova Legislatura, com a fragmentação de partidos e convivendo com o velho fisiologismo e um novo fanatismo, já um grande desafio para a governabilidade. Governabilidade que será indispensável para a gestão fiscal e para a implementação de reformas que recuperem a capacidade financeira do Estado brasileiro. Serenidade é a palavra de ordem.