No meio de uma campanha eleitoral altamente acirrada e carregada de intolerância, o chamado mercado, categoria abstrata que sintetiza o comportamento dos grandes agentes econômicos, mostra uma confiança inesperada e prematura na estabilidade da economia brasileira. Embora o humor do mercado reflita o comportamento de muitas variáveis (incluindo os mercados globais de câmbio e ações), o principal determinante tem sido as incertezas com relação às eleições presidenciais, com a definição da política econômica pelo futuro presidente. Forte desvalorização cambial e queda dos negócios na bolsa de valores acompanharam os meses que antecederam o primeiro turno das eleições, com o dólar alcançando seu nível mais alto em 19 de setembro (R$ 4,13/dolar), precisamente quando o quadro eleitoral ainda parecia embolado. Pesquisa do Datafolha publicada no dia 17 de setembro mostrava o crescimento de Jair Bolsonaro e a intensificação da disputa pelo segundo lugar, entre Ciro Gomes e Fernando Haddad, que registrou forte crescimento e empatou com o candidato do PDT. O crescimento do candidato do PT parecia assustar o mercado. O maior temor do mercado é sempre a incerteza. Por isso, a cotação do dólar começa a declinar a partir de primeiro de outubro quando a configuração do segundo turno parece definida, movimento que vem se consolidando na última semana quando o mercado estaria convencido da eleição de Jair Bolsonaro como futuro presidente. A confiança do mercado num eventual (provável?) governo Bolsonaro, contudo, é muito prematura, a julgar pela indefinição da política econômica a ser implementada caso ele venha a se eleger presidente. A incerteza decorre de um abismo de contradição entre a visão econômica de Bolsonaro (e dos militares que o cercam) – em muito semelhante ao estatismo e dirigismo econômico do PT – e a concepção liberal de Paulo Guedes, o seu principal assessor econômico e possível ministro da economia. Desta forma, a redução da incerteza em relação ao pleito eleitoral, a julgar pelas pesquisas, abre um novo terreno movediço até o início do próximo ano pela ausência de clareza sobre a orientação da política econômica de um governo Bolsonaro.
Postagens recentes
-
O pino da granadafev 21, 2025
-
Os Estados Unidos Humilharam a Europa em Muniquefev 21, 2025
-
-
É isso um acordo de paz?fev 21, 2025
-
Um Fausto americano?fev 21, 2025
-
O Papa Francisco e a Casa Santa Martafev 21, 2025
-
Última Páginafev 21, 2025
-
A volta da ficha sujafev 14, 2025
-
Existe o perigo de um golpe nos EUA?fev 14, 2025
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
comentários recentes
- Paulo gustavo fevereiro 22, 2025
- Franz J. Brüseke fevereiro 22, 2025
- helga hoffmann fevereiro 22, 2025
- Roberto Luis Troster fevereiro 22, 2025
- CLEMENTE ROSAS fevereiro 21, 2025
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
Boa análise. Apesar de meu comentário ser um pouco tardio, acho importante registrar uma nota algo sombria. O desgaste de material implodirá a relação da família Bolsonaro com Paulo Guedes atá 2020, se tanto. Nenhuma relação resiste a tamanha carga emocional, especialmente quando ambas as partes têm estopim curto. Tem mais: dada a capacidade analítica ginasiana do novo presidente, somada à justa reserva dos bons quadros em terem seus nomes associados ao dele (vide Collor), temo que se imponha uma tutela sobre o executivo. Ela acontecerá espontaneamente, nos moldes do cordão sanitário que separa Trump das pautas críticas da Casa Branca, num bem coreografado balé da assessoria. Nesse ponto, a administração de Bolsonaro (sic) pode se assemelhar muito ao modelo petista. Configurado o mesmo vácuo, a gatunagem pode voltar a se instaurar nas salas palacianas. Poucas combinações lhe são tão propícias quanto a de dirigentes de cabeça oca e bolsos sôfregos. Eis um perigo real de retrocesso. E este não consta das peças histriônicas de marketing eleitoral como racismo, homofobia e demais patacoadas. Este é prá valer.