João Rego

Dustheads – Pintura de Jean-Michel Basquiat.

02.11.208

Desde os primeiros momentos em que a Lava Jato desnudou a estrutura de corrupção endêmica, subjacente ao universo do poder político e econômico, que se formou uma divisão estrutural na sociedade.

Tudo, mas tudo mesmo, que aconteceu de relevante na política, nesses últimos anos, como por exemplo, o impeachment, o governo “pinguela” Temer e outros fenômenos, como a condenação de Lula até a ascensão de Bolsonaro, obedece ao peso da força da gravidade dessa divisão, cortando como faca afiada  as instituições e a consciência do cidadão comum.

Refiro-me aquele que nem sabe, e nem quer saber, o que danado é fascismo ou direita e esquerda, sente apenas o ódio contido em se ver mergulhado em uma vida de sacrifícios, contrapondo-se a vergonhosa e descarada cultura da corrupção que perpassa, não só todos os partidos, como a maioria absoluta da nossa elite econômica.

O veio da corrupção, entranhado em nossa formação como nação, quase como um inevitável acidente da nossa cultura política, foi posto à mostra com a Lava Jato. Os escândalos foram, gota a gota, forjando um ódio latente neste cidadão e em grande parte da classe média.  Bolsonaro, com seu discurso binário e tosco, porém violentamente assertivo, emerge como a vingança, o retorno do ódio recalcado deste cidadão comum. O alvo? Toda a velha política que foi derretida eleitoralmente nas últimas eleições. Os extremos ideológicos reforçaram-se mutuamente em insana e vil manipulação de fake news e agressividade, onde o medo e a irracionalidade autoritária encontraram seu único refúgio.

A escolha de Moro para assumir o Ministério da Justiça, com toda a estrutura de poder (Policia Federal, a CGU-Controladoria-Geral da União e o COAF -Conselho de Controle de Atividades Financeiras) -, além de ter sido uma jogada de mestre de Bolsonaro, é a sequência lógica no sentido de atender as forças da sociedade que demandaram um Basta à Corrupção! Uma ruptura positiva em nossa recente história democrática.

Afinal, quem é a favor da corrupção?

Eleições, velha política, nova política, esquerda, direita, foram todos esmagados pelo peso dessa divisão estrutural – a tolerância zero à corrupção.

Bolsonaro, se não cometer erros graves, assim como agredir conquistas civilizatórias de direitos das minorias que compõem nossa bela diversidade humana, social e cultural, poderá fazer novas escolhas tão impactantes quanto essa. Não apenas para garantir a governabilidade, mas para materializar políticas públicas que venham ao encontro das demandas de um segmento importante da sociedade, que o elegeu.

O jus esperneandidos militantes do PT e simpatizantes, que caíram no pânico gerado maquiavelicamente pelos próprios estrategistas das duas campanhas, irá se diluindo quando perceberem que estamos em um Estado de Direito e que a sequência de um governo eleito é governar.

Fazer oposição no grito e no esperneio é tudo que a direita quer, posto que mitifica seu líder ainda mais.

Uma estratégia correta é cerrar fileiras no campo democrático, baixar os ânimos e atuar com competência política no papel que a sociedade nos reservou: a oposição.  Uma oposição de qualidade é também vetor fundamental para o fortalecimento estrutural da democracia.

João Rego

Membro do Movimento Ética e Democracia

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