O professor da Universidade de Chicago, Luigi Zingales, italiano, vem ao Brasil com frequência. Em tom de piada, comparando Brasil e Itália, ele costuma dizer: “Me sinto em casa toda vez que venho para cá. Temos o mesmo nível de corrupção e de intervenção governamental”.
Para ele, líderes populistas surgem quando elites nacionais não respondem às necessidades dos países. E defende, com ênfase, o modelo de economia liberal. No sentido europeu do termo. Para acentuar a junção entre eficiência produtiva e combate ao compadrio.
Segundo Zingales, as contradições no estilo Bolsonaro envolvem oportunidades e riscos. E faz uma aposta no desempenho de Sergio Moro, na Justiça e Segurança, e de Joaquim Levy, no BNDES. Este é o problema do governo. Um governo desequilibrado. Tem uma cordilheira de talentos. E também uma caverna de figuras bizarras.
Entre estas, avulta a de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. A iniciativa insólita, mais recente, da ministra é flexibilizar a presença das crianças nas escolas. Pregando o proveito de as famílias praticarem o ensino em casa. Diria Nelson Rodrigues: “Uma ideia sesquipedal e elástica”.
Só quem não conhece a indisciplina pessoal do brasileiro. Ou quem ignora dificuldades de parte das famílias brasileiras de menor renda em ensinar. Educação, no Brasil, requer presença. Disciplina. E cobrança de aluno. E de professor.
O prof. Tarcísio Patrício lembra os índices baixos da educação nacional. Apenas 22% dos alunos das Universidades Federais concluem o curso universitário. E não é por falta de recursos. Entre 2008 e 2014, o volume de verbas destinadas ao setor aumentou de 61 bilhões para 131 bilhões. E a qualidade, medida pelo PISA, caiu.
Ora, diante desse cenário, defender ensino domiciliar para o grau fundamental é agravar equívocos da educação no país. Na verdade,”laissez faire” é conceito que foi praticado no mercantilismo do século XVIII. Está muito distante da esperada efetividade pedagógica, própria do século XXI. Infelizmente, parece ato gerencialmente esconso, mais próximo de imprevista mediocridade.
Alguém precisa alertar o governo para sustar este laboratório do atraso. Que mande a ministra fazer uma visitinha a algumas universidades japonesas, coreanas, finlandesas. Ou mesmo norte-americanas. São as que estão à frente nos indicadores educacionais.
Muito bom o artigo de LuiZ Otávio -com uma frase lapidar: uma Cordilheira de Talentos e um caverna de figuras Bizarras, embora ache que o talento de Sergio Moro perdeu parte da legitimidade ao transpor tão rapidamente a fronteira de Juíz implacável para a de agente de um Governo , marcado pela polarização ideológica. Prefiro acreditar na cordilheira da maturidade e eficiência- representada por parte dos ministros militares.
Luís Otávio, o problema é que a educação brasileira está ruim. Péssima. Pergunte a muitos jovens com segundo grau completo, e não só da escola pública, quanto é 10% de 200. Ele corre para uma calculadora. Ele sequer entende o conceito de percentagem. Até fazer as quatro operações no papel, sem calculadora, já é uma grande dificuldade. Claro que tem as exceções, casos mais graves e casos menos graves. Uma boa parte dos formados sequer consegue compreender um texto escrito.
A avaliação do ensino brasileiro em qualquer comparação internacional é de dar vergonha. Nós, que somos de outra época, sabemos que já houve educação pública de qualidade neste país. Agora, salvo honrosas exceções, o nível é precário.
Acho indiscutível a necessidade de começar a mudar esse quadro. Como? certamente não é dando guarida a ideias como essa da Ministra Damares, que você tão bem criticou. É falta de bom senso. Mas certamente precisamos de boas ideias e, também, de boas práticas.
E parabéns pelo seu artigo.