Editorial

As festividades dos cem dias do governo Jair Bolsonaro foram antecedidas por um lamentável evento de violência no Rio de Janeiro: o assassinato brutal do músico Evaldo Rosa, numa rua do Rio de Janeiro,  atingido por 80 tiros de fuzil desferidos por um comando do Exército. Quase um tiro de fuzil no cidadão inocente, que circulava com a família, para cada dia do governo atrapalhado do presidente Bolsonaro; que, excetuando o esforço heróico do ministro da economia para a aprovação da reforma da Previdência, brilhou apenas pelas grosseiras e rudes afirmações, pelas agressões ideológicas e por ridiculas falsificações da realidade, além dos contrangimentos diplomáticos. A morte de uma única pessoa inocente numa operação militar é um fato inadmissível e altamente condenável. E embora o número de tiros que roubou a sua vida não tenha qualquer importância, é motivo de grande perplexidade a virulência com que doze soldados descarregaram os fuzis num único indivíduo, como se movidos por ódio ou desespero. O fato demonstra o total despreparo das Forças Armadas para lidar com a violência urbana e o crime organizado, e para oferecer segurança à assustada população das grandes cidades brasileiras. E, em certa medida, reflete o incentivo à violência de algumas declarações do próprio presidente da República e do governador do Rio de Janeiro, que acentuam o ambiente de medo e de tensão na cidade. É verdade que, em vários momentos, incluindo o período de intervenção federal no Estado, a presença do Exército nas ruas do Rio de Janeiro transmitiu alguma confiança à população, e inibiu a atuação do crime organizado. Os oitenta tiros que atingiram Evaldo, no entanto,  podem comprometer a respeitabilidade que as Forças Armadas encontravam junto à população esmagada entre as milícias, o nacrotráfico e a parte corrupta das polícias do Rio.