O visível desprezo do presidente Jair Bolsonaro pelo meio ambiente pode ter estimulado o crescimento recente do desmatamento e das queimadas nos biomas Amazônia e Cerrado, embora os oito meses de seu mandato sejam ainda muito pouco tempo para explicar todo o fenômeno. Os dados são altamente preocupantes, mais ainda o discurso presidencial, minimizando o desastre ambiental e tentando politizar instituições como o INPE – Instituto de Pesquisas Espaciais. De acordo com dados do INPE, nos primeiros oito meses deste ano os pontos de queimada aumentaram em 68% nos biomas Amazônia e Cerrado, quando comparados com o mesmo período do ano anterior. As queimadas vinham declinando desde 2005, quando foram registrados assustadores 97.763 focos de incêndio, mas voltaram a aumentar em 2010, chegando a 63.293 pontos, ainda bem superiores aos 41.117 registrados neste ano de 2019 (sempre comparando o mesmo intervalo). O corte de recursos governamentais para as instituições de combate ao desmatamento e às queimadas, como o IBAMA, não é suficiente para explicar o crescimento das queimadas, mesmo porque estas restrições financeiras já eram significativas em 2018, quando foi registrado um dos mais baixos níveis dos últimos cinco anos (22.165 pontos). Apesar das dificuldades financeiras e dos discursos anti-ambientalistas do presidente, essas instituições continuam funcionando, e os servidores que atuam na ponta do controle ambiental são, no geral, profissionais comprometidos com a conservação da natureza. O alarme internacional com o desmatamento e os incêndios vira repulsa e escândalo por conta do completo descontrole verbal de Bolsonaro, que incendeia o debate politico e contamina ideologicamente a análise e a crítica da degradação das florestas tropicais brasileiras. A deterioração da imagem internacional do Brasil é tão grande quanto o desmatamento e a estupidez do presidente. E pode transformar-se em pressão política e diplomática para conter a fúria autoritária e extrativista do presidente.
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Como sempre acontece, os editoriais da Será? são sempre bastante equilibrados. Porém, não boto a mão no fogo em relação à foto da matéria. É que parece foto de incêndio em floresta d’além mar, Portugal, talvez. Pelo tipo de árvore da foto, se for por nossas bandas, seria em floresta de replantio. Seria interessante saber a data e o local da ocorrência.
Prezado João,
peço sua permissão para copiar aqui um pequeno introito a um post que coloquei há poucos minutos numa rede social, e que sintetiza um pouco de minhas inquietações a respeito desse cabível editorial.
“Na reunião do G-7 amanhã, em Biarritz, os chefes de estado não comerão ostras. Reza a tradição que elas não sejam degustadas em meses de que não conste a letra “R”, e agosto é o último da provação começada em maio. Sem ostras, o Brasil será servido de repasto. Pois se há um ponto convergente, é o de assujeitar o anão militar que somos e salvar o “pulmão do mundo” – uma charada ambiental tão inexplicável para eles quanto para nós. Para tanto, o maior aliado do G-7 é o capitão e sua incontinência. A ação começou com um cheque alemão sustado. Passou por Oslo e depois Paris. Agora a metástase vem para o acordo UE-Mercosul e logo para as exportações. Logo nos tornaremos um estado-pária. E tudo porque a militância de Jair se alimenta do mesmo farelo ordinário que a de Lula: ufanismo e mentira.”
Obrigado,
Fernando
Mr Macron, who will host the G7 summit of leading industrial nations at the weekend, warned that the health of the Amazon was a matter of international concern.
“Our house is burning. Literally. The Amazon – the lungs which produce 20% of our planet’s oxygen – is on fire,” Mr Macron tweeted, using the hashtag #ActForTheAmazon.
Parece que na França estão hoje passando imagens de incêndio na Amazônia sem parar. Então quem sabe é bom a imagem na “Será?”ser claramente nada tropical, para lembrar que incêndio florestal também acontece na Europa. Só que o contexto é diferente: lá não tentam negar os fatos. Será que nosso Presidente vai aprender que negar fatos não funciona como política pública? Será que já tivemos alguma vez no Brasil um resultado tão desastroso de uma “política pública”? E nem adianta demitir o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, cujo comportamento no caso foi apenas endossar as ofensas generalizadas do chefe. Infelizmente o incêndio é real, não é apenas verbal, ainda que seja um incêndio provocado pela verborragia irresponsável do Presidente Bolsonaro.
Caro Editorialista,
Depois de ler toda esta excelente edição de Será? me veio de imediato o sentimento de “TRISTE BRASIL” (parafraseando L. Strauss), diante do teor cáustico do editorial; frente aos desafios da burocracia pública do “andar de cima” (J. Jatobá); ante a ausência do senso de justiça pelo Poder que devia tê-lo (J. Paulo); por não termos uma boa safra de “Alcides Carneiros” (C. Rosas); e pela permanência de DNAs totalitários (P. Gustavo).
Como gostaria de discordar dos articulistas e vencer o ceticismo de curto-médio prazo!
Sr. Décio Valença Filho: é claro que a foto que ilustra o editorial não é da Amazônia, trata-se de uma floresta de coníferas. Mas a imagem é apenas ilustrativa do tema. As imagens dos incêncios da Amazônia enchem as folhas dos jornais e telas do mundo todo, não precisamos de mais comprovações.