Editorial

Women of resistance art installation at Shaheen Bagh.

Quando obrigado a entregar o resultado dos testes de coronavirus feitos há dois meses, o presidente Jair Bolsonaro mostra que utilizou codinomes na entrega do material. De tanto distribuir fake news contra os adversários, ou propagando suas ideias terraplanistas, nas redes sociais, o presidente parece que decidiu virar fake. E ainda adotou o nome completo de um jovem que nem sequer o conhece. Por que o presidente tem de esconder sua identidade por trás de um nome falso, num simples exame para identificação de eventual contaminação com o virus? Os laboratórios de exames estão submetidos a uma legislação que “impõe a correta identificação do paciente, no momento da coleta de amostra biológica e da entrega do laudo, inclusive com a apresentação de documento de identidade civil”. Da mesma forma, os laboratórios são obrigados ao sigilo dos laudos. Não existe nenhum motivo para que o presidente da República seja excluido desta regra, que não representa nenhuma ameaça à sua segurança ou ao interesse do Estado. Tudo é muito estranho nas atitudes e decisões do atual presidente do Brasil, que demonstra uma excepcional habilidade para transformar qualquer evento em tumulto e suspeita. Já era totalmente incompreensível a sua resistência a tornar público o resultado dos testes, principalmente quando afirmava que tinham sido negativos. Por que esconder o resultado de um exame? E mais ainda, por que não divulgá-lo, se o exame comprovaria que ele não tinha sido contaminado pelo vírus, e que, portanto, não estava mentindo? O resultado negativo do teste diz apenas que, quando foi recolhida a amostra, Bolsonaro não tinha contraido o virus, de modo que, não estando imunizado, poderia ainda contrair, e mesmo transmitir a doença. Sendo assim, as saídas de Bolsonaro, misturando-se com manifestantes e promovendo aglomeraçoes de pessoas, eram atitudes totalmente irresponsáveis e, no limite, criminosas. Ele arriscava a própria saúde, que, queira-se ou não, é a do titular da Presidência da República, e, ao mesmo tempo, assumia o risco de eventual transmissão do virus para os brasileiros que o seguiam. Talvez por isso, ele teria dito, na reunião ministerial do dia 22 de abril, que, se divulgasse o resultado dos exames, correria o risco de um processo de impeachment, segundo comentários de pessoas que assistiram ao vídeo (citado pelo Estado de São Paulo).