A verdade “é um cachorro preso num canil”, dizia Shakespeare (O Rei Lear). E que nem sempre anda solto pelas ruas, poderíamos completar. Assim tem sido, ao longo de toda história da humanidade. Por exemplo, não há qualquer prova de que existiu, mesmo, um Cavalo de Troia – em cujo ventre, de madeira, se esconderam soldados. Sequer de ter nascido Helena, razão daquela guerra. A palavra cesariana, diferente do que sugerem as enciclopédias médicas, não vem do imperador Cesar. E Nero, quando ardeu Roma, estava em Anzio. Distante 50 km. Na volta, em vez de tocar sua lira, tentou foi apagar as chamas. Gutemberg não inventou a imprensa. Que tipos móveis – em cerâmica, madeira e metal – existiam já, na China, 3 mil anos antes. E jamais publicou um livro. A Bíblia de 42 Linhas, conhecida como de Gutemberg, foi obra de Peter Schöffer e Johann Fust. Não há prova de que a holandesa Margaretha Geertruida Zelle, mais conhecida como Mata Hari, tenha sido espiã da Alemanha. Sherlock Holmes disse “Elementar”. E, também, “Meu caro Watson”. As duas frases juntas, nunca. Nem Ingrid Bergman, no filme Casablanca, disse “Toca outra vez, Sam”. A frase certa é Play it, Sam. Play “As time goes by”.
Bom lembrar disso ao refletir sobre o Brasil. Para tentar descobrir, entre Moro e Bolsonaro, quem mente. Sem registros das conversas, devemos buscar um critério válido para encontrar a verdade. Recordo velho ministro do Supremo. Quando lhe perguntavam “como julgar?”, recomendava procurar o Umbilicus Mundi. O centro da dúvida. E a dúvida, no caso, é apenas uma. No meio desse terremoto da Covid-19, para que demitir o DG da Polícia Federal? Por que não esperar? Qual a razão de tanta pressa?, eis a questão. Como paira, sobre isso, um enorme silêncio, cabe só especular. Talvez por conta de inquéritos (inclusive das fake news) do min. Alexandre de Moraes, no Supremo – se diz à boca pequena. E que podem atingir pessoas próximas do poder. Muito. Além do que deveria. Por tudo, então, Moro fez bem. Não levou desaforos para casa. Criou novo lema, “Verdade acima de tudo. Fazer o certo acima de todos”. E saiu maior do que entrou. Agora é esperar para saber a verdadeira história, por trás das versões. Oscar Wilde (Frases e Máximas) dizia que “Se alguém diz a verdade, pode estar certo de ser descoberto, mais cedo ou mais tarde”. Esperamos que sim. E logo.
José Paulo Cavalcanti Filho.
Belo texto, bela reflexão Jose Paulo, parabéns.
Numa era de pós-verdades e fake news por todos os lados, o maior compromisso é o de ir ao “centro da dúvida” em busca da “verdade acima de tudo”.