Abraham Sicsú

Gráfico do impacto da crise na economia

O embate foi declarado. Mesmo antes de um plano consistente ser apresentado. Após o anúncio do Pró-Brasil, plano de investimentos, a situação ficou clara. Os monetaristas, capitaneados pelo Ministério da Fazenda, com um séquito de jornalistas e economistas acríticos e bem doutrinados, veem no ajuste fiscal a única saída para a retomada. Os desenvolvimentistas, que acreditam que o Estado tem papel fundamental para impulsionar os investimentos, têm neste caminho a real geração de empregos e a saída da crise.

Se, para enfrentar a crise, nos seus momentos mais agudos, houve, em parte, a possibilidade de um acordo em torno de medidas keynesianas, isto agora está descartado.

Digo em parte, pois lembro que o auxílio emergencial, proposto inicialmente pelo Governo, era para três meses e 200 reais, totalmente insuficiente. O valor foi modificado, mas o prazo não,  que tem ficado claro para os analistas sérios que deve ser expandido. Mas há muita resistência forte do lado monetarista do Governo. Também os empréstimos para as micro e pequenas empresas, a duras penas aprovados, têm tido na burocracia um empecilho real de implementação. Ainda, nada se avançou na tributação de grandes fortunas e capitais, que olham a crise passar sem muito ter que colaborar. Mas o servidor público continua sendo o “vilão”.

Nesse debate, cabe relembrar alguns princípios básicos de Economia.

Aquilo que move a sociedade para um processo virtuoso são as expectativas. Se elas são positivas, retoma-se o investimento, geram-se empregos, e a sociedade pode se desenvolver. Se não, ela estagna ou cai.

Mas o que condiciona as expectativas é a confiança, ou, em outra palavra, a fidúcia. Não havendo confiança, não há retomada de crescimento.

Ao apostar basicamente em ajuste fiscal, não se aponta caminhos claros para a retomada do emprego, o que geraria confiança no desenvolvimento. Pode-se contra-argumentar que o capital privado seria o responsável por isso. Mas, descapitalizado pela crise e não vendo clara a retomada da demanda interna, ou mesmo externa, pergunta-se: que estímulo teria para se arriscar nesse cenário?

O papel do Governo Central pode ser fundamental. É o único agente econômico que emite moeda, que pode gerar meios de pagamento instantâneos, que viabilizem o surgir, em volumes significativos, investimentos estruturadores, como os de infraestrutura, ciência e tecnologia, saúde, educação e alimentação.

Pode-se argumentar que isso traria inflação. Alguma, talvez, mas que não comprometa o processo. Voltemos à confiança. André Lara Resende, baseado na moderna teoria monetária, nos fala de “moeda fiduciária”. Aquela que é vista como possível solução para os problemas de crescimento e as mazelas sociais. A moeda que, ao ser emitida, gera um ambiente propício ao investimento.

Evidentemente, se essa moeda adicional for usada para gastos predatórios, ou mesmo perdulários, não trará confiança, não será meio de reativação. Mas, se houver a clareza de que é para gastos fundamentais para a competitividade dessa sociedade, para aumentar a produtividade e para diminuir o desemprego e gargalos estruturais da sociedade, sem dúvida gerará um fluxo de investimentos, que mais do que justificará esses gastos.

Não estar aberto a esse ponto de vista parece um erro estratégico dos nossos dirigentes. Agora advogam que o país crescia antes da crise. Os dados não são bem esses. Em janeiro e fevereiro houve um decréscimo significativo dos indicadores. Mesmo a projeção de 2,5% de aumento do PIB era pífia, e não resolvia nosso problema de emprego, muito menos de distribuição de renda.

É fundamental que se volte às premissas básicas da Economia, que se evite a polarização em apenas dois modelos, que se abra a cabeça para soluções mais inventivas e menos convencionais. É isso que se pede.