Editorial

Ao longo das últimas semanas, cada vez que se desenhava uma medida judicial que atingiria o cercado do Presidente Jair Bolsonaro, ele ameaçava com risco de rupturas no sistema democrático, e com afirmações do tipo “Acabou, porra” ou, mais recentemente, “A hora está chegando de tudo ser colocado no devido lugar”. Ignorando as reiteradas ameaças, o Judiciário avançou nas investigações e na ordem de prisão de aliados envolvidos nas manifestações antidemocráticas e na rede de fake news. Diante da prisão de vários suspeitos de comandar a poderosa máquina de mentira, falsificação e intimidação por parte do bolsonarismo, seguida da quebra de sigilo telefônico de alguns parlamentares aliados, o presidente elevou o tom das ameaças. A intimidação não teria mesmo efeito, e, logo depois, foram presos bolsonaristas que atacavam as instituições, incluindo o “bombardeio” simbólico ao STF-Supremo Tribunal Federal. Na linguagem intolerante de Bolsonaro e seus seguidores próximos, incluindo alguns militares, eles estariam esticando excessivamente a corda, o que poderia levar ao rompimento. A prisão de Fabrício Queiroz, nesta quinta-feira, aumentou a temperatura no entorno do Presidente da República e, com certeza, não apenas por conta do processo de “rachadinha” na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. O presidente se sente atacado pessoalmente, quando se trata, na verdade, de investigação de crimes cometidos pelos seus aliados. Porém teme, sobretudo, os desdobramentos sobre ele e seus filhos. Sequer condenou o violento ataque ao STF com fogos de artifício, porque se alimenta desta base fanática e agressiva. A fera ferida desperta instintos atávicos que podem levar a reações irracionais e inconsequentes, com grande risco para a democracia e a sociedade. Felizmente, contudo, é muito improvável que o presidente consiga apoio político e militar para uma aventura de quebra das regras e das instituições democráticas.