Editorial

Bons tempos aqueles quando não sabíamos os nomes e nem conhecíamos os rostos dos ministros do STF – Supremo Tribunal Federal. Discretos e silenciosos, tomavam decisões e davam seus votos jurídicos sem visibilidade ou estardalhaço, mesmo que não gostássemos dos resultados. Ainda não existia o palco inebriante da sociedade do espetáculo (Mário Vargas Llosa). Hoje, qualquer brasileiro que assista aos noticiários é capaz de nominar os treze ministros e reconhecê-los no meio da rua. O STF é a instituição soberana de salvaguarda da Constituição e se diferencia das outras instâncias do Estado pelo julgamento jurídico com distanciamento político. Embora nenhuma instituição seja impermeável à política, menos ainda seus membros, os juizes e os ministros do STF têm legitimidade precisamente porque devem evitar falar fora dos autos processuais e da esfera jurídica, devem ser discretos e lacônicos. Na sociedade do espectáculo, alguns ministros do STF estão contaminados pela visibilidade e adoram a popularidade, como se político fossem em busca de aplauso e voto. Falam em excesso e, muitas vezes, de forma descuidada e irresponsável. O ministro Gilmar Mendes é uma toga falante e, com seus pronunciamentos políticos eloquentes e descuidados, costuma provocar conflitos (inclusive com seus pares) e instabilidade institucional. Afirmar que “o exército está se associando a este genocídio” é uma crítica desproporcional e improcedente à desestruturação do Ministério da Saúde que, além do mais, não cabe a um ministro da alta corte. É compreensível a impaciência e mesmo a revolta dos brasileiros e de destacadas figuras do Judiciário com os desmandos e as irresponsabilidades do Governo Jair Bolsonaro. Mas, esta crítica ao governo de um presidente negacionista e suas consequências na saúde pública tem sido feita pelos políticos e por diferentes segmentos da sociedade, a quem cabe gritar e protestar. Não a um ministro do STF, que deveria conter seus impulsos e evitar conflitos políticos. A não ser que queira entrar no jogo de Bolsonaro e esteja preparando o terreno para mergulhar na vida política.