Bons tempos aqueles quando não sabíamos os nomes e nem conhecíamos os rostos dos ministros do STF – Supremo Tribunal Federal. Discretos e silenciosos, tomavam decisões e davam seus votos jurídicos sem visibilidade ou estardalhaço, mesmo que não gostássemos dos resultados. Ainda não existia o palco inebriante da sociedade do espetáculo (Mário Vargas Llosa). Hoje, qualquer brasileiro que assista aos noticiários é capaz de nominar os treze ministros e reconhecê-los no meio da rua. O STF é a instituição soberana de salvaguarda da Constituição e se diferencia das outras instâncias do Estado pelo julgamento jurídico com distanciamento político. Embora nenhuma instituição seja impermeável à política, menos ainda seus membros, os juizes e os ministros do STF têm legitimidade precisamente porque devem evitar falar fora dos autos processuais e da esfera jurídica, devem ser discretos e lacônicos. Na sociedade do espectáculo, alguns ministros do STF estão contaminados pela visibilidade e adoram a popularidade, como se político fossem em busca de aplauso e voto. Falam em excesso e, muitas vezes, de forma descuidada e irresponsável. O ministro Gilmar Mendes é uma toga falante e, com seus pronunciamentos políticos eloquentes e descuidados, costuma provocar conflitos (inclusive com seus pares) e instabilidade institucional. Afirmar que “o exército está se associando a este genocídio” é uma crítica desproporcional e improcedente à desestruturação do Ministério da Saúde que, além do mais, não cabe a um ministro da alta corte. É compreensível a impaciência e mesmo a revolta dos brasileiros e de destacadas figuras do Judiciário com os desmandos e as irresponsabilidades do Governo Jair Bolsonaro. Mas, esta crítica ao governo de um presidente negacionista e suas consequências na saúde pública tem sido feita pelos políticos e por diferentes segmentos da sociedade, a quem cabe gritar e protestar. Não a um ministro do STF, que deveria conter seus impulsos e evitar conflitos políticos. A não ser que queira entrar no jogo de Bolsonaro e esteja preparando o terreno para mergulhar na vida política.
Postagens recentes
-
A turbulência de céu clarodez 20, 2024
-
Balanço positivo de fim de anodez 20, 2024
-
Venezuela: suspense numa autocracia caóticadez 20, 2024
-
Chuquicamata, Patagônia, Índios Alacalufesdez 20, 2024
-
Com a Palavra, os Leitoresdez 20, 2024
-
Ceia Natalina, Proust e Polarizaçãodez 20, 2024
-
Última Páginadez 20, 2024
-
O acordo que pode transformar o Brasildez 13, 2024
-
Um islamismo com temperança e liberdade?dez 13, 2024
Assinar Newsletter
Assine nossa Newsletter e receba nossos artigos em seu e-mail.
comentários recentes
- helga hoffmann dezembro 17, 2024
- sergio c. buarque dezembro 17, 2024
- sergio longman dezembro 15, 2024
- helga hoffmann dezembro 13, 2024
- Marcos Conforti dezembro 12, 2024
Alcides Pires A Opinião da Semana Aécio Gomes de Matos camilo soares Caruaru Causos Paraibanos civilização Clemente Rosas David Hulak democracia Editorial Elimar Nascimento Elimar Pinheiro do Nascimento Eli S. Martins Encômio a SPP Estado Ester Aguiar Fernando da Mota Lima Fernando Dourado Fortunato Russo Neto Frederico Toscano freud Helga Hoffmann Ivanildo Sampaio Jorge Jatobá José Arlindo Soares José Paulo Cavalcanti Filho João Humberto Martorelli João Rego Lacan Livre pensar Luciano Oliveira Luiz Alfredo Raposo Luiz Otavio Cavalcanti Luiz Sérgio Henriques manifestação Marco Aurélio Nogueira Maurício Costa Romão Paulo Gustavo Política psicanálise recife Religião Sérgio C. Buarque Teresa Sales
Estou entre os que sabe nomear todos os membros do STF, que são onze. O que escrevi aqui mesmo na “Será?” é que podem ser 14 as possíveis decisões quando uma questão chega ao STF, se incluímos decisões separadas das duas turmas do Supremo e o poder do Presidente da Corte de determinar a pauta. Sim, a espetacularização, o fla-flu sobre decisões do STF é nocivo ao país, e contribuiu para a desmoralização do Judiciário. No Brasil, Ministros do Supremo e outros juízes nos escalões inferiores “falam fora dos autos” com tanta frequência que isso já não choca nem os puristas. Mas vamos ao caso concreto desta semana: o Presidente e seus apoiadores estão dizendo, repetidamente, que o que está acontecendo na saúde com o Covid-19 é responsabilidade do STF, dos governadores e dos municípios. Então Gilmar Mendes apenas lembrou que o Ministério da Saúde está controlado pelos militares e que isso vai manchar a imagem do Exército. Desmascarou, para quem quiser olhar os detalhes, a estratégia eleitoral do Presidente Bolsonaro: por a culpa dos milhares de mortos por Covid-19 no STF, nos governadores e nos municípios. E o PR ainda vai por a culpa do desemprego nos governadores por causa do isolamento social. Gilmar Mendes só lembrou que, em tese, o Ministério da Saúde é que tem a seu cargo a política e a administração da saúde no Brasil, e que está controlado por militares. Não foi ele que buscou os holofotes, estava num seminário junto com dois médicos, Drauzio Varella e Luiz Henrique Mandetta, e todos eles expressaram o mesmo ponto de vista. Ficará muito comprido discutir aqui a diferença que causou celeuma, que foi o uso do termo “genocídio” por Gilmar Mendes, mas isso não aconteceu por acaso, e tem a ver com o Tribunal Penal Internacional.
Atualmente está mais fácil para qualquer um, até mesmo para um juiz (ainda mais um juiz suspeito), latir do que morder. Discursos e mais discursos. Poucas ações efetivas, a não ser a piores possíveis para a humanidade. Já estraplamos as fronteiras em matéria de desastre moral e ético.