Desde o início da pandemia, estava instalado o desentendimento do Presidente com os governadores em torno da compreensão da ameaça e da orientação politica para lidar com avanço do Covid 19. Enquanto os governadores formulavam estratégias para o isolamento social e os cuidados para conter a contaminação, o presidente da República atrapalhava ostensivamente, minimizando a importância da doença, rejeitando a suspensão das atividades econômicas e recomendando medicamentos de eficácia amplamente questionada pelos especialistas. Felizmente, ao longo do primeiro semestre, apesar do discurso do Presidente, houve convergência dos governadores com os ministros da saúde, enquanto estes conseguiam ignorar as arengas anticientíficas de Jair Bolsonaro. A convergência terminou com a nomeação do general Eduardo Pazzuello, que segue à risca as desorientações de Bolsonaro.

Agora que o Brasil enfrenta uma retomada da propagação do vírus, a disputa federativa se desloca para as vacinas e se concentra na tensão entre o Presidente da República e o governador de São Paulo. Para desgosto do presidente, João Dória saiu na frente, com a contratação e produção da vacina Coronavac. Enquanto o Ministério da Saúde patina na compra de vacinas e acessórios e na definição de um plano de vacinação, João Dória anuncia o início da vacinação no dia 25 de janeiro (embora dependa ainda da aprovação da ANVISA). Bolsonaro nunca deu mesmo importância para vacina, e sempre expressou uma hostilidade ridícula à vacina do instituto Butantã, que insiste em chamar de “vacina da China e de Dória”. Bolsonaro  vai ser atropelado pela Coronavac. Mesmo que Dória se tenha precipitado com o anúncio de uma data para a vacinação, forçou o Ministério a sair, tardiamente, da inércia. O Brasil perdeu muito tempo. E a cada dia de atraso na vacinação, cerca de 600 brasileiros perdem a vida.