Cartaz da Guarda Vermelha de Mao Tsé-Tung.

 

No final dos anos 50, o líder russo, Krushchev, fez um discurso arguindo os excessos da gestão Stalinista. E gerando dúvidas sobre a legitimidade da política totalitária comunista de Stalin. Referências, em tom de veneração a Mao, foram retiradas da Constituição do Partido Comunista.

Então, Mao resolveu que o Partido Comunista Chinês convidaria as pessoas para debater seus métodos. Abrindo à discussão a vida intelectual e artística chinesa. Na prática, a chamada Campanha das Cem Flores, no rastro desse estímulo governamental, transformou-se em campanha anti direitista. Com abuso por parte de autoridades locais.

Nessa altura, Mao decidiu que era hora de deflagrar a Revolução Cultural. Esmagando a estrutura do Partido e do Estado chinês. Pretendia eliminar traços da cultura chinesa tradicional de fundo confucionista. O propósito de Mao era incentivar a substituição da geração de administradores. Por um grupo de apoiadores mais equipados ideologicamente.

A China achou-se num sectarismo político feroz. Mergulhando num frenesi ideológico. Configurava-se quase uma guerra civil. Por conta da Revolução Cultural Proletária. As instituições mais representativas do pensamento chinês foram atacadas. Foram formadas milícias conhecidas como Guardas Vermelhos. Operando fora da lei. O resultado foi uma carnificina. E subversão institucional.

A sociedade chinesa sempre apoiara suas decisões na concepção tradicional dos confucionistas. Agora, a palavra de ordem vinha da rusticidade de camponeses. Universidades foram fechadas. Especialistas eram suspeitos. Competência profissional passou a ser vista como conceito burguês.

Fruto da Revolução Cultural, o Pequeno Livro vermelho de citações de Mao, foi editado em 1964. Os milicianos da Guarda Vermelha, brandindo o livrinho, confiscavam documentos e atacavam funcionários. O impacto social da Revolução Cultural foi desastroso. Na prática, com a morte de Mao, seu legado político foi mal avaliado, criticado e condenado.

Após redigi-lo, ouvi noticiário sobre edição de quatro decretos do presidente da República. Ampliando as hipóteses de uso de armas de fogo pela população civil. Em seguida, ouvi notícia sobre a prisão do dep. Daniel Silveira. Por causa de ofensas e ameaças feitas por ele a cinco ministros do Supremo Tribunal Federal – STF.

Não está em marcha, no Brasil, uma Revolução Cultural. Está em marcha no Brasil tentativa de golpe. De uma parte, arma-se grupos de milicianos. De outra parte, busca-se desconstruir as instituições democráticas.

Os agitadores que atiraram fogos de artifício contra o prédio do STF, ano passado, são aprendizes de feiticeiro. Recebem recorte antipedagógico dos que procuram desmoralizar a imprensa. Armar a população. E se omitir no combate à pandemia.

Esses grupos criminosos são decalque tropical dos guardas vermelhos. Subvertem as instituições e atacam a democracia. Porque, assim como na cena chinesa de Mao Tsé-Tung, na China, nos anos de 1960, tem, no cenário brasileiro, nos anos atuais, inspiração para tal.

No Brasil dos anos de 1970, a nação lutava contra uma ditadura. O então presidente Geisel, com apoio intelectual do general Golbery do Couto e Silva, construíram a arquitetura da distensão segura, lenta e gradual. Que, depois da demissão do general Ministro, Sílvio Frota, obteve êxito. E o governo foi entregue, na redemocratização, ao vice-presidente, José Sarney. Com Tancredo, infeccionado, preso a leito do hospital das Forças Armadas, em Brasília.

Pois bem. Numa palestra na Escola Superior de Guerra – ESG, antes de deixar o governo, o general Golbery defendeu a distensão política. E a colocou numa moldura teórica. Dizendo que o risco da democracia está na ferradura. Porque os extremos da ferradura se tocam. Assim como se tocam os extremistas políticos, de direita e de esquerda. Quer dizer, extremistas de direita e de esquerda são iguais.

O que aconteceu na China de Mao, à esquerda, está sendo semeado no Brasil atual, à direita.