O populismo é sempre arriscado conselheiro. Os custos para a liberdade são altos.
Em 1955, o então deputado e líder udenista, Carlos Lacerda, pregava aos quatro ventos: Juscelino não pode ser candidato (a presidente); se for, não pode ser eleito; se for eleito, não pode tomar posse.
Juscelino foi eleito, tomou posse. E fez um belo governo. Com um sorriso nos lábios. Não exalava raiva. Foi dos poucos presidentes que transparecia o sabor do poder. O governo lhe fazia bem. E ele fazia bem o governo. Verdade que ele só tomou posse porque o ministro da Guerra (ainda não era ministério do Exército), general Henrique Duffles Teixeira Lott, botou os tanques na rua. Garantindo o cumprimento da agenda democrática.
Outro populista, mais ao Norte, também tentou desbotar o desenho da democracia de Thomas Jefferson e George Washington. Mas a estabilidade institucional da Constituição da Filadélfia dobrou Donald Trump. E ele nem deu o golpe, nem venceu a eleição. Dupla derrota. Que reiterou o exercício da liberdade semeada pelos founding fathers.
No trópico, temos ouvido o som rouco de ameaças. Estado de sítio, nosso Exército. Confunde-se a esfera administrativa do toque de recolher com medidas constitucionais de defesa do Estado. Instila-se o temor ao tentar a apropriação partidária de instituições que pertencem ao todo, à nação.
Geralmente, ameaças ocultam o fio da insegurança pessoal. Quem as faz é porque não se sentem confortáveis com o estado da arte. No caso, é justificado. Trezentos mil mortes. E uma ausente política de combate a COVID-19. Uma saída é reunir os Poderes da República. E deixar que a corrente fluvial do noticiário passe a impressão de união. Talvez de solidariedade. Ou um pouco de coordenação federativa.
Mesmo à custa de delegar ao presidente do Senado a tarefa indelegável de fazer a interlocução com os governadores. É o jeito. Questão de talento. Para conversar. Para ouvir. Ser empático. Está bem. Então, Minas, que conhece montanhas, sobe esta ladeira.
Mas, não se contava com a velha rebeldia alagoana. Bem que o presidente Arthur Lira avisou. Quando eu falar, é esta Casa que fala. O clima parlamentar ouvira o clamor da rua. A insatisfação popular subiu a soleira do Parlamento com a ineficácia na saúde. Chegara a hora de exprimir a reclamação. E Alagoas falou. Como falara o ex-senador, Teotônio Vilela. O menestrel das Alagoas. Pela redemocratização. Agora, Alagoas fala pela integridade republicana. E o presidente da Câmara disse: Chegamos ao limite de erros.
Arar a servidão não é caminho. O caminho é corrigir erros.
Linda ilustração, João Rego. Acho que sou menos juscelinista que a maioria porque não dá para esquecer o quanto ele foi um criador de inflação. Simpático era, sem dúvida. Lembro que, bem jovem, fui com um grupo de jornalistas (acho que foi quando eu era foca no jornal do Samuel Wainer) a Brasília recém inaugurada, e Juscelino nos recebeu elegantemente vestido, mas de chinelos. Lembro até hoje dos chinelos, eram chiques, de couro, nada de “chinelo de dedo” . Naquela época a vida urbana, no Rio, era “mais civilizada”. A miséria ainda estava toda escondida no campo. E a capacidade de o Estado gastar ainda não tinha tocado o limita para o aumento da arrecadação.
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