Um filósofo alemão, no século 19, disse: “Toda boa prática tem uma boa teoria”. Ou seja, os fazeres humanos requerem estratégia. A política não está excluída da regra.

Getúlio Vargas, nos idos de 1930, anteviu nova configuração social no país. Decorrente do processo de industrialização e urbanização. Era a massa operária. Que pedia um padrinho político. Quinze anos depois, Vargas criava o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB. Pelo qual se elegeria presidente da República em 1950.

Juscelino Kubitschek era candidato a presidente, em 1955, pelo Partido Social Democrático – PSD. Partido da classe média rural. O candidato da União Democrática Nacional – UDN seria Juarez Távora. Partido da classe média urbana.

Para vencer a eleição, JK precisava do apoio do PTB. Ele não teve dúvida. Tomou o avião e viajou a Itu, onde estava, em sua fazenda, Vargas. O mineiro voltou com um acordo no bolso, apalavrado com o gaúcho.

Getúlio foi o fundador do Brasil moderno. E Juscelino realizou cinquenta anos em cinco. Ambos, movidos a um combustível essencial em política: paciente serenidade. Fruto de estratégia pensada. Que não afronta os fatos.

É o que parece faltar a Bolsonaro. Equilíbrio, serenidade. E pensamento estratégico. A decisão de não planejar o combate ao corona vírus com recursos da ciência foi decisão ideológica. Baseada em fundamentalismo religioso. Ultrapassado. A ideia de vencer a pandemia pela imunização de rebanho é perfeito despropósito. Num país continental. Com um presidente que alicia a população para descumprir protocolos sanitários.

O Japão vacinou menos que o Brasil. E tem 20% de mortes do número verificado no país de Osvaldo Cruz. Porque o povo japonês é disciplinado. E porque o governo de Tóquio orientou a população a usar máscara e a manter o distanciamento social. O Brasil tem 2% da população mundial. E 12% de mortes pela covid.

Pesquisa de opinião anunciada hoje dá conta de que Bolsonaro teve ampliado o percentual de desaprovação para 49%. E diminuído o de aprovação para 23%. Ele não está entregando os produtos a que se comprometeu na campanha. Nem na economia nem na gestão administrativa. Nem na privatização nem na modernização da máquina pública.

O último bastião de seu discurso, combate à corrupção, não se sustenta mais. Primeiro, a investigação e demissão do ministro do Meio Ambiente. Segundo, a denúncia de superfaturamento na compra da vacina indiana. E quando se esperava que Bolsonaro mandasse investigar a denúncia, ele atacou o denunciante. Funcionário concursado do ministério da Saúde.

Os números de avaliação de seu governo começam a tomar feitio de realidade. De gestão sem planejamento e sem direção. Sem sensatez e sem estratégia. Os convictos de extrema direita no Brasil não passam de 20% do eleitorado. Porque a senda da desconstrução e o estandarte do ódio não integram o repertório cultural do povo brasileiro.

À medida que os números da desaprovação aumentarem, os integrantes do centrão irão abandonar o governo. Como sempre o fizeram. E o candidato à reeleição não chegará ao segundo turno.