O presidente da República já ameaçou mais de uma vez: “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. (…) Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”. Em termos mais claros, afirma que vai partir para um golpe de Estado, se o Congresso não aprovar a reforma constitucional que cria o voto impresso. Esta é a chantagem que Jair Bolsonaro utiliza para convencer o Congresso a aprovar a mudança do sistema de votação, partindo de uma alegação totalmente infundada – como quase tudo que ele fala – de que a urna eletrônica é passível de fraude. Ao contrário do que afirma Bolsonaro, o voto eletrônico é controlado e auditável por todos os partidos e pelo TSE-Tribunal Superior Eleitoral. A chantagem de golpe subiu de tom com o recado que o ministro da Defesa, general Braga Neto, teria mandado para o presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira, repetindo a ameaça de Bolsonaro. Segundo matéria publicada no Estado de São Paulo, Braga teria avisado a Lira, através de um interlocutor político, que sem voto impresso e auditável, não haveria eleições em 2022. O ministro negou, o presidente da Câmara tergiversou, mas a matéria do jornal, assinada por Andreza Matais e Vera Rosa, apresenta detalhes e afirma que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica teriam conhecimento, assim como um ministro do STF e interlocutores políticos próximos de Lira.
A situação é muito grave e demonstra o desespero dos bolsonaristas com a queda de popularidade do presidente e o avanço das investigações da CPI da Covid-19, com denúncias de prevaricação e sinais de corrupção no entorno do Palácio do Planalto. De onde vem, afinal, a obsessão de Bolsonaro com o voto impresso? Tudo indica que ele está antecipando a sua derrota eleitoral e se preparando para tumultuar o processo, questionando os resultados e exigindo uma “contagem” manual dos votos. Assim, criaria um ambiente de suspeita, instabilidade e radicalização política para mobilizar sua base de milicianos, que poderia levar a uma comoção social envolvendo os militares na sua aventura golpista. Bolsonaro já demonstrou que não vai aceitar o resultado das eleições e, como será derrotado, está preparando as condições para uma ruptura institucional. Com ou sem voto impresso.
Parece-me correta a interpretação e análise do Editorial. E me deixou assustada . Não quero que o Brasil vire uma grande Venezuela e muito menos uma grande Síria.