Alguém que não soubesse que era Jair Bolsonaro o orador naquela sessão de abertura da reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas ficaria surpreso com o país por ele representado. Qual país que “estava à beira do socialismo”? Não poderia estar falando do Brasil que, nos três anos antes da sua posse, foi presidido por Michel Temer, aquele mesmo que o orientou agora a escamotear suas intenções golpistas. E que, diga-se de passagem, deu início a várias reformas estruturais que foram aprovadas pelo Congresso nos anos recentes, e que Bolsonaro apresenta como se fossem parte do seu sucesso econômico.
O ouvinte do discurso do brasileiro passaria da surpresa à estupefação, quando Bolsonaro afirmou que a parte do território formada pela vegetação nativa no Brasil seria “a mesma desde o descobrimento, em 1500”. Como assim? Da exuberante Mata Atlântica restam hoje apenas 12,5% da original, e cerca de metade da vegetação nativa do cerrado já foi “antropizada”; da extensa Floresta Amazônica foram desmatados quase 20% da vegetação nativa.
Como se pode dizer tal absurdo diante das maiores autoridades políticas do planeta e na sede das Nações Unidas, sem sequer utilizar a máscara para esconder a sua insolência (já que o vírus ele prefere difundir mundo afora)? Que país é este que teria conseguido o milagre de conservar a floresta nativa por mais de 500 anos? Que país é este que tem um presidente com tamanho descaramento para inventar realidades paralelas, ignorar o mundo real, mentir e manipular informações? Como disse o fotógrafo Sebastião Salgado, o presidente Bolsonaro é o maior predador da história do Brasil. Bolsonaro é também o predador dos fatos e da realidade expressa em documentos, estudos e relatórios técnicos e científicos, incluindo o monitoramento do INPE.
Ele disse que veio à Assembleia das Nações Unidas mostrar que o Brasil é “diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”. À exceção do que inventam e falsificam os seus milicianos digitais da pós-verdade, tudo o mais é mentira, toda a imprensa brasileira e internacional estaria ignorando o Brasil maravilhoso que o seu governo está construindo, depois que “salvou o Brasil do socialismo”.
Ainda disse que respeita a Constituição, que recuperou a credibilidade do Brasil, e que as manifestações do Sete de Setembro foram as maiores da história brasileira. O Brasil passou por mais este vexame na cena internacional.
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