O que ainda sustenta 25% a aprovação ao governo Bolsonaro? Apesar do ar distraído com que lida com os problemas do país? A resposta é: o autoritarismo brasileiro. Ou se quiser, o machismo. Ou ainda, a insegurança dos que não conseguem enfrentar o dissenso. Não conseguem decifrar a complexidade de uma sociedade inclusiva. Que aposta na diversidade social.
Esta é a equação do bolsonarismo: autoritarismo machista versus complexidade socialmente inclusiva. Insuportável. Nada a conservar. Nem a preservar. Como disse Bolsonaro, é preciso destruir.
Do começo: relembre-se o governo Lula. Defesa de direitos humanos, inclusão social, cotas raciais, políticas para os pobres, abertura para os LGBT. Bandeiras assoalhando de vermelho as avenidas. Depois, veio o mensalão. A revogação do Partido da ética. O Petrolão. O rombo de 6 bilhões no patrimônio da Petrobras. As empreiteiras. Insegurança instalada. E nossos valores?
Então, veio a promessa, a mentira, a xenofobia, O acerto de contas. O ovo da serpente. Era preciso acabar com a democracia. Que não se ajustava a nossos padrões. Regime fraco. É essencial um líder forte. Decidido. Que mostre força. Que enfrente poderosos. Que ponha o Supremo no seu lugar. Como Orban fez na Hungria. Como Chavez fez na Venezuela.
O que é mais importante? Democracia ou nosso sistema de vida? Nosso modo de olhar a família, a religião, o meio ambiente? Oh, a nostalgia está indo embora. E, com ela, a democracia. Vamos implantar o nosso sistema. Seguro. Em sépia. Passado redivivo. Restaurador. Vamos erigir nossos mitos. Ensinar a home school. Como disse um escritor alemão sobre seu país: “A tendência democratizante, niveladora, atomística deste país, se expressa numa lenta decadência”.
Ou como escreveu o britânico, Roger Scruton, a respeito do Reino Unido: “A antiga Inglaterra, pela qual nossos pais lutaram, foi reduzida a bolsões isolados entre rodovias. (…). O céu noturno já não é visível, coberto por doentio brilho alaranjado, a Inglaterra está se tornando uma terra de ninguém”. Inconformado com o fato de os ingleses terem de compartilhar decisões econômicas com os demais europeus na União Europeia. Uma agonia nacionalista. Um desespero cultural. Como acentuou Anne Applebaum, no notável O Crepúsculo da Democracia.
Unidade ideológica é o mote. Queremos monismo político. Mitificação transcendente. Complexidade é conversa mole. Diversidade é mimimi. Inclusão social é coisa de pobre. Dissonância é para quem não pode.
A afronta, que cavalga retórica esconsa, sai dos efeitos midiáticos semiocultos. E vai para as ruas. E vice-versa. Envolvendo apoiadores. Adoradores do sol. Até que o risco judicial ponha freio na cavalgada. Não só tropical. Pois a catedral de Notre Dame, após Emanuel Macron, virou mesquita, nos grafites, em ataques mediterrâneos. É ódio global.
Mas Macron foi firme. Ele disse: “Nós estamos conectando o passado ao futuro, a nação ao mundo, a família à sociedade. Nós representamos o real, eles a ideologia”.
Na semana anterior, Viktor Orban tinha dito: “Importante é não ter de dividir o poder com outros Partidos”. Dias antes, jornais publicaram fotos de Putin homenageando ícone de Nossa Senhora de Kazan.
Applebaum nos recorda. Em 1986, Jeane Kirkpatrick, representante dos Estados Unidos na ONU, afirmou: “Para destruir uma sociedade, primeiro é preciso deslegitimar suas instituições”. Lutemos.
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