Hipólito da Costa era um brasileiro que morava na Inglaterra. No início do século 19. Foi um liberal que fundou o Correio Braziliense. Curiosidade: o jornal, fundado em Londres, em 1808, circulava no Brasil. Em português. Coisa própria de quem é vocacionado para a informação pública.

Sete anos depois, era fundado o Diário de Pernambuco. Em novembro de 1825. Pelo tipógrafo Antonino José de Miranda Falcão. No Recife. Quando a capital do estado ainda era Olinda.

Imprensa é pilar. Pilastra da democracia. Impresso ou cada vez mais virtual. É pelas veias abertas de tinta (e às vezes de sangue) que a cidadania se forma. E informa. Por isso, quem não gosta de democracia também desgosta de imprensa.

O direito à informação é relevante duas vezes: para informar à cidadania e para nivelar a informação entre os que são instruídos, bem-informados. E os que não o são. Quem não é bem-informado, não tem ampla rede de relacionamento, depende mais de órgãos de informação.

Digo sempre aos meus alunos que ligar a tv cedinho, para saber se o mundo está em pé, é ato aparentemente prosaico.  Banal. E não é. Porque, por trás do gesto, está uma Constituição a ser respeitada, uma liberdade a ser guardada e um direito a ser preservado. É isto que nos garante o direito à informação. Quando, nos anos de chumbo, o Estadão publicava receitas de bolo por causa da censura, a lei era rasgada. E a cidadania pisoteada.

A esta altura, com o crescimento das mídias sociais, surgiu a questão das fake news. É ponto sensível. Porque distorce a informação ao bel (e não tão belo) prazer de quem a produz. Estabelece-se, então, uma batalha de narrativas. No fragor da luta, a primeira vítima é a verdade. A segunda, é a democracia. E a terceira, é o leitor. Por isso, conforta a cidadania a presença de juízes íntegros no Tribunal Superior Eleitoral – TSE. E não cortesões do poder.

Às vezes, estilhaços desse embate atingem profissionais de imprensa. Que honram a profissão. E distinguem a atividade com o senso dos fatos. E não com o dissenso da realidade. É o que acaba de acontecer com a jornalista Míriam Leitão.

Míriam Leitão é uma profissional nascida em Caratinga, Minas Gerais. Foi para o Rio de Janeiro onde desenvolve, até hoje, brilhante carreira como comentarista econômica e escritora. Seu desempenho lhe valeu prêmios no Brasil e na América Latina. E, em 2005, uma das mais reconhecidas premiações internacionais: o Moors Cabot, concedido pela Universidade de Colúmbia. Míriam é pescadora de notícias. Jangadeira de mares bravios. Acostumada a escalar as montanhas de Minas.

A qualidade dessa premiação dá a medida do valor dos premiados. Por isso, Míriam Leitão é tão admirada pelo público. E tão respeitada entre seus colegas. Por tal desempenho, lembrei-me de uma jornalista, escritora e política francesa, Françoise Giroud (1916-2003). Ela foi ministra da Mulher no governo Chirac (1974-76) e ministra da Cultura no governo Raymond Barre (1976-77).

Lá, como cá, Françoise Giroud como Míriam Leitão nos fazem crer na aurora. No desabrochar da palavra que fortalece instituições. Na integridade pessoal que inspira fazeres dignos.

Esta crônica é homenagem a Míriam Leitão. Pelo ataque baixo que sofreu de parlamentar. Cujo nome sequer merece ser aqui mencionado. Com o fecho de W.B. Yeats:

“O que eu esperava que fosse, escrever pra minha gente, e aquilo que o mundo trouxe: os vivos que dão desgosto, o morto que era um amigo, o covarde no seu posto, o insolente sem castigo, canalha algum intimado, enquanto um ébrio o aclamar, o engraçadinho açodado, com seu chiste mais vulgar, o esperto que traz nos lábios, algum bordão de palhaço, o espaço que falta aos sábios, e a grande Arte sem espaço”.