Na medida em que se aproximam as eleições, cresce a movimentação de Lula e Bolsonaro pelo voto útil, cada um no seu terreiro, tentando esvaziar candidaturas concorrentes. E a disputa autofágica das lideranças do centro-democrático, atrasando a definição das candidaturas, tem estimulado a migração de votos para os dois candidatos que lideram as pesquisas, consolidando a polarização. Dentro dos dois principais partidos do centro-democrático, PSDB e MDB, é grande a adesão, explicita ou não, de figuras destacadas pregando o voto útil e detonando as suas próprias candidaturas. Reagindo às pressões de Lula para a retirada da candidatura de Ciro Gomes, Carlos Lupi, presidente do PDT, foi taxativo: a defesa do voto útil promove, na verdade, “um voto inútil”, congela e reforça a polarização eleitoral que empobrece o debate político em torno de propostas alternativas para o desenvolvimento do Brasil. 

Para além desta polarização eleitoral, que se reflete nas pesquisas, existe uma polarização política entre a extrema direita predatória do presidente Jair Bolsonaro e todas as forças democráticas e civilizatórias do Brasil. No entanto, dentro do aglomerado que resiste ao bolsonarismo existem divergências em relação à estratégia para tirar o Brasil do abismo e promover o desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à política macroeconômica, ao papel do Estado e aos investimentos estruturadores de mudança. E estas visões diferentes precisam ser discutidas na campanha eleitoral. Tanto Lula e Ciro, quanto o candidato que pode emergir do entendimento entre PSDB e MDB, vão estar do mesmo lado, na crítica ao completo desmantelo do governo de Bolsonaro. Mas precisam ter espaços para apresentar ao eleitorado brasileiro diferentes opiniões e visões sobre a forma de lidar com os desafios econômicos, sociais e ambientais, sobre os caminhos para a reconstrução do Brasil arrasado pelo furacão de extrema direita. Como, por outro lado, são grandes as chances de Bolsonaro avançar para o segundo turno, todos devem se unir em torno do seu adversário, de preferência, negociando as grandes prioridades de governo. Para isso existem dois turnos. Todo voto é útil, porque expressa uma escolha política. Inútil é apostar na polarização eleitoral.