A redação do Pasquim continuava a ser desfile de personagens, ideias e controvérsias. Representava um Brasil pulsante. Vibrante nas posições contrárias. Mas onde se conseguia fazer fluir corrente fluvial de graça. Humor. Espírito leve. Onde andam esses traços tão brasileiramente nossos ? Por que estamos tão rançosos ?
Em 1977, os entrevistados seguiram-se: Darcy Ribeiro, que chegou dizendo:
– O povo, em sua imensa sabedoria, deveria me aclamar imperador !
Depois, o cineasta Cacá Diegues. Autor de uma das tiradas mais repetidas no país: patrulha ideológica. Grupos de esquerda que se alimentavam da vigilância do comportamento de quem eles consideravam obrigados a se manifestar contra sua verdade.
Em 1978, na edição 490, o entrevistado foi Fernando Gabeira. Longa entrevista. Com a seguinte chamada: O Brasil tem que ler, Fernando Gabeira. Intensa repercussão. Terminou na edição de livro composto de três partes: Cartas sobre a Anistia; Entrevista do Pasquim e Conversação sobre 1968.
Publicada em novembro de 1978, a entrevista com Gabeira ocorreu no hiato entre 13 de outubro, quando foi promulgada emenda constitucional revogando atos institucionais contrários à Constituição, e 1 de janeiro de 1979, quando a emenda entrou em vigor como parte da abertura política iniciada em 1974. A chamada distensão segura, lenta e gradual. Na entrevista, percebia-se o clima de esperança que tomava conta do Brasil.
Em seguida, veio a entrevista com Gregório Bezerra. Ao chegar ao Rio, vindo do exílio, no aeroporto, perguntaram a ele:
– Quer ir ao Pão de Açúcar, matar a saudade do Brasil ?
Gregório respondeu:
– Quero ir à redação do Pasquim.
Foi. E disse.
A entrevistada seguinte foi a feminista, Betty Friedan. À época, com 51 anos. Já respeitada autora de Mística Feminina. Na primeira pergunta, Paulo Francis entrou forte:
– Você veio para subverter a secular submissão da mulher brasileira ao homem ?
Betty não tremeu. E respondeu firme:
– Não exatamente. Só as mulheres brasileiras podem fazer isso.
Configurava-se nova tendência editorial no jornal. Distante do humor anárquico. Da cultura intelectual. Do media criticism de Millôr, Ivan Lessa e Paulo Francis. O Pasquim mergulhava na política.
E, assim, foi abalado pelos episódios de terrorismo interno. No dia 30 de abril de 1981, duas bombas explodiram no Rio Centro. Dentro de um carro. No colo de um capitão e de um sargento. Ameaças surgiram. As bancas deixaram de vender o jornal. Desenrolava-se luta titânica entre a abertura e a extrema direita.
O ministro chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, pediu demissão. O Pasquim publicou a seguinte manchete:
GO! BERY. E QUE O LEITÃO NOS SEJA LEVE.
(Continua).
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