Hamlet, diante de imaginária derrota, em fingimento para evitar o próprio fracasso:

“Não estou louco de verdade. Estou louco por astúcia”. Shakespeare.

O filósofo italiano, Gian Battista Vico (1688-1744), defendia o argumento de que a humanidade atravessa três fases: a idade dos deuses (de mitos); a idade dos heróis (de fantasia); e a idade dos homens (de vida civilizada).

Ou seja, há a natureza, depois há a fantasia e, enfim, há a razão. Será? E a guerra, o racismo, a ditadura?

A Idade Moderna, (até o século 18), após a insubmissão de Galileu Galilei, libertou a ciência da tutela religiosa. Tantas e tais foram as invenções da ciência. Inspiradas pelo Iluminismo. Com o passar do tempo, ciência e tecnologia avançaram na produção e na inovação. Na extensão das técnicas. Na produção estimulada pela competição. O mundo contemporâneo dispensou o espaço da filosofia?

Ciência e tecnologia são formas privilegiadas de saber. Muito bem. Então, por que os desastres ecológicos? Por que o aquecimento global? Por que a energia poluente? Por que o risco atômico? Por que a fome?

Ora, a filosofia moderna nasceu com o cogito de Descartes. Alcança a maturidade com o saber absoluto de Hegel. Para a trilha hegeliana, a filosofia conclui a odisseia do Espírito.

Com o avanço das ideias, a verdade filosófica reconhece a realidade ontológica. Quer dizer, dizer as coisas como são significa afirmar aquilo que é. E abaixo as fakes news.

Mas, Aristóteles lembra que há o homem do pensar. Homo sapiens. E Bergson aponta o homem do fazer. Homo faber. Ou seja, o homem pensa e age. Transforma o ambiente. Estrutura humana dúplice. Conhecimento e ação. Daí vem a divisão reconhecida entre filosofia especulativa, tratando o ser enquanto compreendido pelo homem. E filosofia prática, tratando da ação do homem nos seus fazeres e fins.

Cobrindo essa didática, o véu da filosofia, amor à sabedoria, se sustenta em princípios. Já os gregos buscavam a arché nos dois sentidos: o princípio como origem e o princípio como causa. Daí a pergunta: por que? Qual o sentido da experiência? Do fazer do homem? E da escolha entre o bem e o mal?

Porque a filosofia vai muito além da experiência. Da guerra, do orçamento secreto, do feminicídio, da mentira polida no oficialismo. A filosofia está na ética. Na decência. No respeito. Vale ouvir Parmênides:

“Pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; e são levados como surdos e cegos, perplexas, indecisas massas, para os quais ser e não ser é reputado o mesmo e não o mesmo, e de tudo é reversível o caminho”.

A maravilha e a perenidade da filosofia está em que ela assenta as bases de uma concepção de mundo. E de avaliação da vida. De valores. De finalidades.

Escrevo entre o silêncio da madrugada, que me acalma. E a agonia do meu país, que me agonia. Silêncio e agonia são conceitos ambivalentes. Que me acalentam no propósito de partilhar. O que de melhor a filosofia (ah, meus professores, jesuítas), repito, a filosofia me ofereceu: amor, amorosidade. E eu os dou.