Variações sobre gráficos by João Rego.

 

A pesquisa eleitoral é um componente do processo eleitoral em países democráticos. Pode-se não gostar, não confiar, mas não se pode relegar. Elas não definem resultados, mas auxiliam candidatos e suas assessorias, incitam a curiosidade de outros atores (incluindo investidores) e influenciam as decisões dos eleitores.

As pesquisas podem ser quantitativas ou qualitativas. As primeiras são as mais conhecidas e divulgadas. As segundas são mais de consumo interno, auxiliam as decisões de candidatos e suas assessorias. E é normal que assim sejam. As pesquisas quantitativas dizem do montante de eleitores que votam em um ou outro candidato, que estão indecisos ou que declaram votar nulo ou branco, em um determinado momento. As qualitativas dizem das motivações que levam os eleitores a se inclinarem ou rejeitarem um ou outro candidato. E essas motivações são variadas: “é em quem eu confio”; “me transmite segurança”, “tem boas propostas”; “ é seguro”; “é bonito”, “é rico e por isso não precisa roubar”, “sempre ajudou os pobres”. O repertório é imenso, e por vezes engraçado: “Voto nele (ou nela) porque vai ganhar, não vou perder meu voto escolhendo quem vai perder”.

No Brasil, a prática de pesquisas eleitorais tem crescido muito ultimamente. Em junho de 2018 foram realizadas 41 pesquisas por 5 institutos, das quais 10 presidenciais. Em 2022, no mesmo mês, foram realizadas 47 pesquisas, das quais 19 presidenciais, por 13 institutos. O número de institutos de pesquisa eleitoral aumentou consideravelmente. Esses institutos são distintos. Alguns fazem pesquisas há muitos anos, como o Datafolha, e outros surgiram este ano. Como os partidos políticos, os institutos de pesquisa têm, em geral, duas naturezas: aquelas que são profissionais e persistem no tempo, e outras que são criadas na ocasião, como forma de ganhar dinheiro (legendas). Nestes casos, a maioria morre após se encerrar o pleito. Pesquisa eleitoral é um mundo de negócios.

As metodologias também variam e são todas frágeis. A maioria pretende apresentar-se como científica, mas não é verdade. Os procedimentos científicos, normalmente, não são observados com rigor.

As pesquisas utilizam sempre uma amostra do universo que se quer representar. Assim, para saber o que pensam os 156.454.011 eleitores brasileiros, adota-se uma amostra estatística aleatória simples, sistemática ou estratificada.

Normalmente, dois são os mecanismos de coletar informação utilizados atualmente: por telefone ou presencial.  Ambos têm vantagens e desvantagens, que não cabem aqui comentar.

Todas as pesquisas têm vieses que os institutos mais sérios tentam contornar. Mas vale a pena lembrar que apenas o tipo de entrevistador selecionado pode mudar as opiniões dos entrevistados, assim como o uso do telefone deixa o entrevistado inseguro com quem está falando. O mecanismo mais utilizado, por seu custo e rapidez, é justamente o telefone, sobretudo depois que ele quase se universalizou no país. Com isso, aumentaram as empresas que financiam as pesquisas eleitorais.

Os institutos mais profissionais e experientes adotam muitos procedimentos para reduzir os riscos de erros, desde a elaboração do questionário até a definição e construção da amostra, passando pelo tipo de abordagem. Afinal, para os institutos que persistem no tempo terem resultados de pesquisa mais adequados aos resultados eleitorais, é um elemento de confiança que lhe posiciona melhor no mercado de pesquisas eleitorais. Assim, pode-se desconfiar dos resultados das sondagens eleitorais, mas elas não podem ser desconhecidas.

As pesquisas quantitativas, registradas no TSE, retratam, no momento de sua realização, o “humor” e as “decisões conjunturais dos eleitores”, que evidentemente podem mudar ao longo do tempo por mil e uma razões: fatos desabonadores do candidato, melhores promessas e expectativas de outro candidato, influência de amigos ou familiares etc. Sabe-se que boa parte do eleitorado decide o voto alguns dias antes das eleições, senão no próprio dia, sobretudo em relação aos candidatos para o Legislativo.

Vistas em seu conjunto, as pesquisas quantitativas indicam tendências. E esta é uma informação da maior relevância para candidatos, especialistas, financiadores, investidores e eleitores. As tendências às vezes se aceleram ou se invertem, provocando surpresas, mesmo para os especialistas.

O Instituto de Estudos e Pesquisas para o fortalecimento da Democracia (IEPfD), toda última terça feira do mês, às 19 horas, vem promovendo um debate em torno das pesquisas eleitorais com três craques da Análise de Pesquisa[1]: Mauricio Costa Romão, PHD em economia pela Universidade de Illinois e um dos 10 mais conceituados analistas do Brasil, segundo o Poder 360, Adriano Oliveira, doutor em ciência política, professor da UFPE e fundador do Cenários de Inteligência, e Rodolfo Costa Pinto, mestre em ciência política pela George Washington University, coordenador de pesquisas do Poder 360, o único instituto do país que realiza há mais de um ano sondagens eleitorais quinzenalmente. O debate, de forma remota, reúne, além dos três expositores, alguns membros do IEPfD na modalidade zoom. Qualquer pessoa pode assistir e participar pelo canal do IEPfD no Youtube (Veja em  www.iepfd.org).

Em geral, Mauricio Romão inicia apresentando uma síntese das principais pesquisas do mês, comparativamente aos meses anteriores. Para evitar os vieses dos institutos, ele trabalha com médias simples. Dessa forma, os resultados de sondagens “fora da curva”, para um lado ou para o outro, são compensados. Os outros dois participantes acrescentam detalhes e outros olhares, que enriquecem a apresentação e o debate.

O que mais chama atenção nos quatros debates promovidos pelo IEPfD, de abril a julho, é a constância dos resultados. De janeiro a julho o candidato Lula se moveu dentro da margem de erro: 42,2 a 43,3%. Bolsonaro, porém, tem elevado sua cota de eleitores de forma leve a cada mês. Uma leve linha ascendente: 27,1 a 33,8%, ou seja, quase 1% ao mês. Como faltam apenas dois meses, ou o presidente acelera sua linha ascendente de maneira significativa, ou chegará ao dia das eleições com uma defasagem de 8 pontos percentuais. Aliás, as diversas medidas tomadas recentemente, como a redução do preço da gasolina e a distribuição do auxilio emergencial de R$ 600,00 têm esta finalidade: acelerar a linha ascendente. De toda forma, a campanha começa agora no mês de agosto, e as expectativas são grandes em relação ao fim deste mês.

Se os quatro debates anteriores foram despidos de suspense, há uma expectativa para o próximo (30/08, às 19h). Agora temos uma candidata em cena, e os dois candidatos de maiores intenções de voto têm considerável rejeição, sobretudo Bolsonaro (53%). Lula tem menos (36%)[2].

[1] Neste link você poderá ter acesso a todos os debates: https://youtube.com/playlist?list=PLZQlj-1Z3uuJE_NYMf02oe4qH99UtBzmp

[2] A fonte dessas informações é o Datafolha de 28/07.