Cartão Postal – Rio de Janeiro, anos 40.

 

Os jornais destes primeiros dias de agosto trazem a notícia de que um desfile do Sete de Setembro será em Copacabana (haverá outro em Brasília). Naturalmente, nunca houve algo similar na Avenida Atlântica. É uma “inovação” do mandachuva do Planalto. A imprensa também diz da surpresa do Comando Militar do Leste, que, como de hábito, vinha preparando o desfile do Rio na Avenida Presidente Vargas, com certeza muito mais apropriada para o cívico evento.

De tédio, ninguém morre. O mandachuva manda, e a chuva cai torrencial e enlouquecida. Enfim, “Cesse tudo o que a antiga musa canta” que uma “voz mais alta se alevanta”. O inquilino do Planalto tem razões que a própria razão desconhece. A razão, não o gosto excessivo pelo poder. Não a política ou a politicagem. Enfim, ele não bate prego sem estopa. Não é de hoje que o presidente e seus fanáticos sequestraram a princesinha do mar. Agora, a esse sequestro, não por acaso, somam o sequestro do Sete de Setembro. De histórica e cívica, a data passa a ser político-eleitoreira. Que palco mais iluminado e belo que Copacabana?

Sobre essa politização extremista do Sete de Setembro, há discordâncias entre os próprios aliados. Um general da reserva, por exemplo, chegou a dizer que “Ordem errada não se cumpre”. O interessante a observar nesse seguidor é que só agora percebeu uma ordem errada… Antes tarde do que nunca! Até o momento não tem faltado apoiadores para cumprir as ordens de quem tem a caneta e o Diário Oficial nas mãos, embora não, ao que parece, um exemplar da Constituição.

O mandachuva, se mandasse no tempo atmosférico, decerto ordenaria um belo dia de sol no próximo dia Sete de Setembro. Mas, com ou sem sol, o candidato certamente ganhará uma bela foto: um mar verde e amarelo tomará as areias e o asfalto da Avenida Atlântica. Entre chopes, mates gelados e biscoito Globo, muitos cariocas acorrerão à cena abusiva. Logo em seguida, a mídia estampará “ad nauseam” o “triunfo” presidencial. Afinal de contas, o ex-tenente do Exército é um presidente berlusconiano, ou seja, midiático. Ao fim do dia, terá ele ganho o dia?  Sim e não. As últimas pesquisas sugerem que esse inusitado Sete de Setembro pode se tornar um canto de cisne.

Consumado o abuso do cartão-postal (conhecidíssima face do Brasil para o mundo), mais um entre tantos outros abusos, estaremos há um mês das eleições, quando, sem qualquer otimismo, o autoritarismo liberticida deverá ser vencido. Assim esperam os democratas de todos os quadrantes do País. Passada a apropriação política e midiática pela onda parafascista e eleitoreira, Copacabana voltará a ser, como disse Dorival Caymmi, “um bom lugar para passear à beira-mar”, “um só lugar para se amar”. E o nosso desejo, tão ardente quanto democrático, é que nunca mais a “princesinha do mar” caia nos braços de um aventureiro.