The Atlantic -  by Philip Johnson

The Atlantic – by Philip Johnson

 

Leio nas mídias e fico pensando. 

Fanáticos continuam em frente aos quartéis. Ainda bem que vêm diminuindo em número. O Judiciário tem sabido dar as respostas na medida correta.

Uma manchete bastante significativa. “Bolsonaro continua em transe e ainda fala em anular as eleições”. Continuamos num país dividido em que o fundamental não é construir o desenvolvimento, mas aniquilar os que consideramos adversários. 

Parece irreconciliável, mas a prática mostra o contrário. Um panorama que tem levado a situações que não seriam previsíveis meses atrás. Algo vem mudando.

Nos jornais, uma nova notícia:  “Lula se reúne com Lira a portas fechadas para discutir a PEC da Transição”.  Concessões serão feitas, mesmo tendo sido inimigos figadais faz poucos meses.

Também está escrito que Partidos que eram de oposição vêm se aproximando, não por compartilhar princípios ou ideais, mas na busca de importantes espaços de poder. Dois meses atrás eram inimigos irreconciliáveis, e agora fazem negociações para acomodar a situação daqueles que não podem estar na oposição se o desejo é poder governar. Algum dia nós saberemos o que foi ou será cedido. 

É a política, não me surpreende, embora ainda seja daqueles que ingenuamente acreditam num mundo em que ideais podem ser o motor da História. Mas não são. 

Os participantes do poder assim agem, se acomodam às situações, mas a população, em geral, não. 

Interessante notar como se toma partido e literalmente se briga perdendo amigos e companheiros, enquanto o poder, pouco a pouco, vai se entendendo e os poderosos não perdem espaço.

Pego um Uber. Sempre peço o Confort, por considerar que os motoristas falam menos, não se posicionam. Não foi o caso. Entramos na Avenida Agamenon Magalhães e vemos uma decoração de Natal que está, no meu entender, simpática. George, o motorista começa a se pronunciar:

“Um absurdo. Tudo é corrupção. Com tantas necessidades milhões são jogados fora. Os mesmos políticos que receberam bilhões na Pandemia e nada fizeram, embora o Governo Federal muito ajudasse.”

Procuro não me posicionar. As palavras dizem por si a posição política do condutor. Penso em não arrumar atritos.

Ele continua resmungando e entra na Rosa e Silva. Nova afirmação, essa me incomodou:

“Falam em desarmamento. Vão desarmar quem? Nós, o povo.  Os ladrões e malfeitores continuarão armados. Um verdadeiro disparate. Só falta proibir os policiais de nos protegerem”.

Tento argumentar que uma população armada é um perigo. A violência e a insegurança aumentam. Que posso até entender que em regiões desertas os proprietários possam ter uma arma para sua defesa. Mas, num centro urbano altamente povoado, para quê? Arsenais têm sido encontrados. Qualquer discussão, qualquer opinião contrária pode terminar em tragédia. Evitemos uma guerra urbana.

Não se convence. E começa a falar alto. A dizer que tem que matar os bandidos, que ele tem o direito de defender sua família. Que é um contrassenso proibi-lo de possuir armas. Ainda bem que chegamos ao fim da corrida.

Uma confraternização de final de ano. Na mercearia de seu Artur. Música da melhor qualidade. Romero chamou os melhores instrumentistas. Cachorro quente de charque, saladinha de bacalhau, pratos de frios, comidinhas para acompanhar. E a bebida jorra à vontade, do rum ao whisky, da cachaça à cerveja.

A noite vai se aprofundando e os vapores etílicos tomando conta da corrente sanguínea. E do cérebro, é claro. 

Jorge, o contador, já tinha chegado bastante “mamado”. Tarcísio, o cantor, tomou todas. Estavam no ponto, como se diz.

Começa a discussão. Têm visões de mundo e de política diferentes. De um papo agradável, começam a se agredir:

“Quem vota em ladrão é ladrão. Você é corrupto. Está levando nosso país para o comunismo, para a degradação moral”.

“Respeite-me. Depois do que fizeram não têm moral para falar. Corruptos são vocês, bando de ignorantes.”

A discussão ia chegando às vias de fato. E os gritos dominavam a Rua da Harmonia. Se não fosse a intervenção do dono da venda, sempre respeitado, mesmo com seus oitenta anos, teria virado uma guerra campal. Os que saiam do restaurante em frente, rapidamente se enfiavam nos carros e iam embora. Dificilmente esses dois litigantes, que já foram amigos, voltarão a se cumprimentar.

Famílias que não tratam assuntos polêmicos na mesa, amigos que se evitam para não entrar em confronto, reuniões que não acontecem por ter sido dita uma palavra inadequada. Este é o país dos nossos dias. Esse que teremos de mudar. Onde teremos que relembrar o significado de empatia e de fraternidade. Difícil, mas uma missão a ser enfrentada.

Boas festas a todos os amigos, e façamos com que o ano vindouro seja de concretização de ideais libertadores de uma sociedade que precisa recuperar o significado da palavra PAZ.