O Centrão foi a sustentação política do governo Jair Bolsonaro desde 2021, depois que o presidente, vendo a crescente rejeição na opinião pública e temendo um processo de impeachment, “entregou a alma do governo” a Ciro Nogueira e a Arthur Lira. Ciro Nogueira, assumindo a Casa Civil, e Arthur Lira, na presidência da Câmara de Deputados, passaram a governar o Brasil e apressaram-se em criar os mecanismos financeiros que viabilizaram a eleição de uma grande bancada no pleito de outubro, entre os quais o vergonhoso orçamento secreto. Confirmada a vitória eleitoral de Luís Inácio Lula da Silva, o Centrão movimentou-se rapidamente nas negociações para garantir espaços de poder no futuro governo, o que terminou contribuindo para conter os impulsos golpistas de Bolsonaro. Isto é o Centrão, um aglomerado de partidos e parlamentares sem uma ideologia política, e que se movem com o propósito da manutenção no poder, através do controle do Congresso e independentemente de quem seja o presidente da República. Pelo tamanho da sua bancada (que será ainda maior na próxima legislatura), o Centrão tem uma força considerável nas decisões políticas e, portanto, não pode ser ignorado na construção da governabilidade. A força de gravidade do Centrão é tão forte que parte do PL-Partido Liberal, de Bolsonaro, tem sinalizado a provável transferência para outros partidos, de modo a aproximar-se do novo governo. O Centrão pode formar, na próxima legislatura, no mínimo, 200 deputados (desconsiderando os 99 parlamentares do PL-Partido Liberal de Bolsonaro), o que representa quase 40% da Câmara de Deputados, o suficiente para infernizar a vida de qualquer governante, ou facilitar a governabilidade.
As críticas de Lula à velha política e, particularmente, a Arthur Lira e ao orçamento secreto, são coisas do passado, discursos logo esquecidos quando se trata de governar. Antes mesmo de tomar posse, o presidente eleito já mostrou claramente que pretende atrair o apoio do Centrão ao seu governo, e não apenas para aprovar agora a tal PEC-Proposta de Emenda Constitucional que autoriza a elevação dos gastos públicos para além do Teto de Gastos. Anunciou o apoio à reeleição de Arthur Lira na presidência da Câmara de Deputados, concedendo dois anos mais de mandato, o que acompanhará metade do governo Lula. E mesmo considerando as restrições fiscais, Lula não pretende sequer falar do orçamento secreto, que prevê 19 bilhões de reais do apertado orçamento de 2023. A dificuldade de Lula para compor o seu ministério, mesmo com o aumento do número de ministros, decorre, provavelmente, da negociação para abrir alguns cargos para partidos do Centrão. A orientação política do governo Lula, em quase todas as áreas, será muito diferente da do presidente que sai. Mas o “presidencialismo de compadrio” continua firme e forte, como o preço da governabilidade.
Acho que o Editorial está certo. É objetivo. Mas que dá tristeza, isso dá. E nem adianta derramar lágrimas.