Editorial

Os deputados chilenos decidiram, por unanimidade, reduzir em 50% os próprios salários, como um sinal de respeito à sociedade, que reclama das desigualdades sociais e da elevação dos preços dos serviços públicos e do achatamento dos benefícios previdenciários. A diminuição dos salários é extensiva aos senadores e às altas autoridades do Estado, incluinido o presidente da República, os ministros e os governadores das províncias. A economia nos cofres públicos não é suficiente para financiar o aumento dos recursos necessários ao atendimento das demandas da sociedade, mas demonstra sensibilidade dos políticos diante das dificuldades sociais do país. Enquanto isso, no Brasil, os parlamentares, em diferentes níveis federativos, decidem sobre a destinação dos limitados recursos públicos sempre em benefício próprio. O exemplo mais recente, que está longe de ser um caso isolado, foi o aumento de quase 30% dos salários dos vereadores do Recife (com apenas sete votos contrários), gerando uma despesa adicional de mais de dois milhões de reais por ano, sem falar nos penduricalhos de assessores (18 cargos comissionados por vereador), auxílio disso e daquilo, e verba indenizatória. O novo salário dos vereadores – R$ 18.980,00 – não é um absurdo, considerando a responsabilidade de um parlamentar, que deve representar os interesses dos cidadãos recifenses. Mas o aumento é completamente inoportuno e inadequado, diante da crise econômica e fiscal e das enormes dificuldades da população, e demonstra uma grande insensibilidade social dos vereadores. Quase no mesmo dia, o Congresso Nacional aprovou a destinação de dois bilhões de reais para o Fundo Eleitoral do próximo ano, que vai financiar a campanha dos partidos nas eleições municipais. O valor aprovado é bem inferior ao que foi aprovado pela Comissão de Orçamento, exorbitantes R$ 3,8 bilhões, que deveriam ser cobertos com a redução de gastos sociais, mas representam uma elevação de quase 18% (R$ 300 milhões de reais), em relação ao distribuído nas eleições gerais do ano passado. Isso num país em profunda crise fiscal, que paralisa o Estado e comprime os gastos públicos. Será que vamos precisar de uma convulsão social da extensão e dimensão da que vivenciou o Chile para quebrar a insensibilidade e a alienação moral dos políticos brasileiros?