Um grupo de estudos. Reúne-se faz mais de sete anos. Debate temas atuais. Permite que nos atualizemos e tenhamos opiniões sobre diferentes aspectos. Não faltamos, momento importante para os que dele participam.

Dia 29 de janeiro. Mais uma reunião. Temas diversos da conjuntura nacional. O grupo está indócil, mostra preocupações, mas tem em mente um tema não explícito. Surge na conversa: Carnaval.

Olinda está fervendo, Recife tem mil programações, até o Caruru de Rogério já ocorreu e foi um sucesso. Evidentemente que se tenta dar um tom acadêmico ao debate, mostrando a relevância para o emprego e renda do retorno da festa, e mesmo como grupos profissionais específicos dela dependem. Tudo bobagem, o que queremos mesmo é nos programar, saber o que faremos este ano.

Contamos com gente abalizada, que sabe das coisas, e apontam bons caminhos: Gerson, presidente vitalício de nosso Bloco, Poli, boêmio que não perde uma boa festa. O debate rola e chegamos à programação ideal.

Sábado, 4 de fevereiro, o tradicional Bloco das Academias da Cidade sai do Sítio da Trindade. A concentração é às sete e trinta da manhã. Mas só sai depois das nove. De todos os rincões da cidade, os atletas do cotidiano, que procuram uma vida saudável, mesmo com aquela barriguinha, se deslocam para o local. Em grupos representando seus bairros fazem sua festa fantasiados. Senhorinhas e senhores, jovens e idosos de mais de setenta, todos se congraçam e se apinham. Fotos e mais fotos. A frevioca, com uma boa orquestra, anima os foliões. O Rei e a Rainha do Carnaval estão presentes. Percorre-se Casa Amarela ao som de Capiba e Getúlio Cavalcanti, músicas que Claudionor Germano imortalizou. Na volta, uma parada em “seu Artur”, que nos espera com aquela gelada.

À tarde tem o “Pisando na Jaca”. Rita, Silvinha e Mônica prepararam tudo. A intelectualidade pernambucana se reúne na Praça de Casa Forte. Velhos amigos da Fundaj e da UFPE não podem faltar. Clóvis se fará presente. Este ano, com mais razão, sempre representando os Povos Originários. Seu cocar está gasto, mas é muito bem vindo. O percurso, até o final do Encanamento, arrasta a multidão. A orquestra tem mais de trinta músicos da melhor qualidade.

No domingo, programa novo. Poli, em sua mansão, convida para um bloco de massa. O povão se aglomera. O Capibaribe é o palco. O Jacaré da Beira Rio sairá com os trios e os clarins. O álcool inebria, a dança se faz presente, as águas vão rolar, não sobrará garrafa cheia.

Quarta feira é do Poço da Panela. O Bloco de Doutor Humberto marca presença faz anos. “Paraquedista Real” é tradição. Barraquinhas são montadas em frente à Igreja, o palco para a orquestra, a mercearia do “seu Lunga”, digo, seu Vital, ao fundo. Tudo faz a noite ir se aprofundando. Os frevos de bloco tradicionais, os mesmos que cantamos todos os anos e de que gostamos muito.

Sexta feira é especial. É dia de “Nem Sempre Lilly Toca Flauta”. Nosso presidente avisa que a concentração será na Rua da Moeda. Na sua imponência, teremos duas orquestras. Beto do bandolim não nos abandonará. O coral feminino está afinadíssimo. O desfile até o arsenal, o palco, tudo como sempre foi. Voltaremos gloriosos após dois anos de breve interrupção. Vale usar fantasias de anos anteriores, numa mistura que representa um ano em que tudo volta, nada será perdido. Do africano, ao pierrô, do cangaceiro ao paletó branco de gafieira, nada se esqueceu, não há pandemia que faça desaparecer.

Sábado exige um café reforçado. Bem cedinho, pois a brincadeira começa quase de madrugada. Não sei se Marcelo se animou, mas se topar, lá estaremos. O “Pinto da Madrugada” no Marco Zero. Antes das oito da manhã. Uma obrigação, amigos da CHESF que se organizam. Desfilar pelo Recife Antigo vazio, com as ruas sendo lavadas, com os garis aderindo á música, com Pedro e Suzana nos comandando. Uma gelada para animar. Muitas fotos para tirar.

Chegamos à Dantas Barreto, a saída do Galo. Muitos trios, milhares de foliões. São quase onze da manhã. O sol é sempre escaldante. Muito líquido para hidratar. As pernas começam a fraquejar. Hora de ir para o Forte das Cinco Pontas, ver os fantasiados, cada vez menos, ano após ano, pegar um táxi e ir para casa.

Uma e pouco da tarde. A feijoada está no ponto, Deo estará presente este ano. Tem a profana com tudo que se tem direito, e a vegetariana para os que aderiram a essa doideira de comida saudável. Os músicos são esperados. Ari, Gerson, Henrique, Heitor, sempre muito bem vindos. O estandarte está à porta. Bebida é que não falta. Os clãs Katz e Silva são aguardados. As meninas, cantoras e dançarinas, aguardadas. Sem Jaqueline, Gerusa, Sílvia, Regina, Aninha, Claudinha e Celinha, perde-se um pouco da graça. Amigos e amigos dos amigos irão chegando. Marcelo, Bertotti, Rodrigo, Guilherme e Júlia sempre apresentam gente muito interessante.

O bloco se prepara. Percorrerá com gáudio a Avenida Lourdinha Bittencourt. Todinha, nos seus cinqüenta metros de ladeira empinada. O estandarte levado pelos jovens, Leon e amigos candidatíssimos. Com orgulho iremos cantando a música que Zoca, nosso mais que querido eterno maestro, entoava para o bloco sair, anos a fio:

Chegou o Carnaval

É tempo de brincar
Cantando esta canção
Sorrir sem ironia
Sem mágoa e ilusão
Não mais se lamentar
Dançar com emoção
É tempo de alegria
E paz no coração

É tempo de abraçar
Falar irmã-irmão
Calar a dor ferina
Que dói na solidão
É tempo de colher
Uma doce melodia
É tempo de brindar
A luz de cada dia

É tempo de rasgar
A velha fantasia
Achar um novo amor
Perdido na folia
É tempo de cantar
Num coro, sem rival
É tempo de amar
Chegou o carnaval

Composição: Antonio José Madureira / Antúlio Madureira.