O presidente Lula da Silva conseguiu, esta semana, duas vitórias importantes no jogo político parlamentar, com a eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para as presidências da Câmara de Deputados e do Senado, respectivamente. Mas pode ter sido uma vitória de Pirro, lembrando o que disse o rei de Epiro, depois que derrotou os romanos em duas batalhas: “outra vitória como esta me arruinaria”, avaliando o alto custo pago pelo sucesso militar. Pacificação, respeito à democracia e autonomia do Legislativo foram a tônica dos discursos dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, indicando que o presidente Lula pode contar com um bom trânsito nas negociações políticas com Lira e com Pacheco. Por outro lado, a derrota da chapa do bolsonarista Rogério Marinho no Senado deu um grande alívio para o governo, e deve reduzir os riscos de novas investidas golpistas no Brasil. 

E por que pode ter sido uma vitória de Pirro? Em primeiro lugar porque a esmagadora vitória de Lira, juntando 20 partidos (do PT à extrema direita), confere um enorme poder ao Presidente da Câmara, que vai cobrar um elevado preço para apoiar as propostas legislativas de Lula. O grande vencedor foi Lira. E, como disse Cristina Serra em artigo da Folha de São Paulo, “Lira almeja ser um copresidente, mandando e desmandando na agenda de Lula”, como fez quando levou o Centrão para o governo Bolsonaro. No Senado, Lula terá uma interlocução mais confortável com Pacheco. Além de ser um político com serenidade e convicções democráticas, Pacheco deve a sua reeleição ao apoio direto do governo, que recorreu aos instrumentos conhecidos (nem sempre muito republicanos) de “convencimento”. No entanto, o Senado tem a principal barricada legislativa do bolsonarismo, sob a liderança de Rogério Marinho, que conseguiu quase 40% dos votos, enfrentando Pacheco, candidato à reeleição, e a mobilização do Presidente da República. Por isso, nos próximos anos, Lula pode enfrentar uma dura oposição no Senado, mesmo contando com a colaboração do presidente da Casa. 

Até agora, o governo deu passos na construção da governabilidade com a atração do apoio de vários partidos, consolidada agora com a eleição dos presidentes das duas Casas do Congresso. Entretanto, se a análise acima estiver correta, o governo ainda vai ter de pagar um preço alto para aprovar suas propostas no Legislativo. Lula vai precisar da sua reconhecida habilidade política para lidar com os malabarismos e contornar os obstáculos e armadilhas de Lira, na Câmara, e da oposição de direita, no Senado. O futuro do seu governo e, portanto, do Brasil, depende do sucesso destas negociações.