O Carnaval é na próxima semana. Começa no sábado. Antigamente era chamado sábado gordo. Por que? Porque antecede o período lúdico de Carnaval. A expressão vem da festa carnavalesca em Portugal e na Itália. Os italianos falavam em sabato grasso.

Muito bem. O que ocorreu em Brasília para o governo, ontem, foi uma quarta-feira gorda. Não que venha por aí um estio luminoso de aragem fresca. Não. Mas há três razões concretas para o governo respirar:

  No Supremo Tribunal Federal – STF, o reinício do ano judiciário foi sublimado por convergências verbais. E gestuais. Entre ministros da Corte e o presidente Lula. Fortalecendo elos de compreensão mútua;

  No Senado Federal, o governo impôs mais uma derrota ao itinerante da Flórida. A eleição de Rodrigo Pacheco trouxe um alívio de sensatez e de pacificação ao processo político. Mesmo fora do país, o itinerante acena com ameaças. Na mesma hora, a Polícia Federal cumpria mandado de prisão do agressivo ex-deputado Silveira;

  Na Câmara dos Deputados, o presidente, reeleito, Artur Lira, continua dando seu show. Bateu recorde de votos. E fez um discurso, com afinados traço e compasso, de perceptível autonomia política. Na linha de coerência que se definiu desde o segundo turno da eleição. Foi o primeiro a reconhecer a vitória de Lula. Frustrando expectativas golpistas.

O nó que resta é a economia. É o rubicão de Lula. A travessia que Júlio Cesar fez. E alcançou a margem da República. Brutus é outra história. O fato é que a República brasileira foi reinventada. Mas os juros continuam altos. E o PIB permanece baixo. No subsolo da produção, a Formação Bruta de Capital Fixo, isto é, investimentos, não animam o auditório.

No cenário econômico, o governo tem duas alavancas para injetar confiança na sociedade. Vejam que não falei em mercado. Falei em sociedade. Mercado é volúvel. Sociedade é leal. Mercado é assustadiço. Sociedade, acostumada a erros e acertos oficiais.

As duas alavancas são a âncora orçamentária de Fernando Haddad (e não o teto de gasto). E a reforma tributária. A âncora orçamentária ou fiscal, como queira, significa sinalização de que o gestor tem os números da despesa sob controle. Que os números estão ao alcance das políticas públicas. Que cabem na capacidade de arrecadar da Fazenda. Não significa necessariamente superavit. Mas significa capacidade de gestão. De domínio da realidade fiscal. Na relação dívida/PIB, por exemplo.

A segunda alavanca é a reforma tributária. Esta reforma virou uma espécie de Afrodite sem cabeça. Sem endereço. Todo mundo elogia sua beleza. A necessidade de sua presença. E só se sabe de sua ausência. Ninguém consegue tocá-la. Debatê-la. Avançar no rito decisório. Melhorar a harmonia de formas. Para desburocratizar seu feitiço.

A bola está com o governo. Ele deve ocupar o espaço com coisas objetivas, consistentes. Ou o itinerante da Flórida vai continuar fornecendo gasolina aos incendiários de plantão.

Evoé, Momo !