Quase metade dos brasileiros (precisamente 44%) teme o comunismo, teme que o governo Lula venha a transformar o Brasil num país comunista. Um completo delírio, claro. Eles estão vendo fantasmas, mais de três décadas depois do desmonte da União Soviética e do bloco soviético, quando nem a China pode ser mais classificada como comunista, e quando mesmo os partidos declaradamente comunistas não defendem uma ruptura radical da economia e dos valores da sociedade. Na verdade, não estão delirando, estão utilizando um conceito equivocado de comunismo para expressar outros temores políticos, econômicos e sociais, devidamente manipulados pelo marketing bolsonarista. Tal conceito começa com a rejeição às experiências malsucedidas de ditaduras autodeclaradas de esquerda, como a Venezuela de Chavez e Maduro e a Nicarágua de Daniel Ortega, que combinam autoritarismo e estatismo, provocando o desastre econômico e uma crise social. E que não têm nada de comunismo. Embora Lula e o PT não tenham nenhuma intenção de copiar estes modelos falidos no Brasil, permitem a confusão, quando insistem em defender as duas ditaduras, pelo simples fato de se autodeclararem de esquerda e agitarem a velha bandeira anti-imperialista.
O segundo temor dos anticomunistas brasileiros tem a ver com a temática das mudanças de valores e costumes, a amplitude que os movimentos identitários vêm ganhando nos debates e influenciando em decisões de comportamentos, em confronto com o conservadorismo dominante nas classes médias e nos grupos religiosos. O que fica evidente quando o percentual dos que receiam a marcha do Brasil para o comunismo sobe para 57% entre os evangélicos, o reduto mais tradicionalista da população brasileira, defensores da família e da moral puritana. Como os partidos de esquerda, especialmente o PT, concentram grande parte da sua estratégia nos temas identitários, em defesa veemente das suas bandeiras, é natural que os conservadores transfiram o seu temor para o governo Lula. Embora, mais uma vez, o identitarismo não tenha nada a ver com comunismo, representando mais claramente pautas liberais e de direitos civis. Esta postura da esquerda e do PT ajuda a propaganda bolsonarista, que escolheu o comunismo para mobilizar os medos atávicos das forças conservadoras, e vem explorando o anticomunismo, que durante muito tempo ocupou o inconsciente coletivo da sociedade brasileira.
Imagino que a falta de cultura geral, na população. possa ser parte da explicação; pois quantos desses 44% com medo de comunismo saberiam quem é a figura que está ilustrando o Editorial? Não estariam usando o termo “comunista” como uma xingação qualquer, como muitos petistas usam como xingação “nazista” e “neoliberal”?