Senado Romano

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A evolução da educação pode ser observada em relação a três perguntas: “educação para que?”, “educação para quem?” e “educação como fazer?”, em cada momento da história.

Educação para que?

  1. Povos originários

A educação nasce com o homo sapiens. A resiliência que dependia apenas do próprio corpo do animal – bocas, mãos e garras – em simbiose com a natureza, passou a depender também da mente. Nesta espécie, a capacidade de adaptação passou a ser feita pela inteligência dos seres humanos. Na medida em que se afirmava em relação às demais, precisou transferir conhecimento para suas novas gerações, e a depender da educação para esta transmissão, não feita apenas pelo instinto biológico: ensinar a fazer trajes contra o frio, a criar ferramentas para produzir, a acender fogo para proteger-se e cozinhar, utilizar pedras e ossos como armas. O homo sapiens sobreviveu e se expandiu graças a muitos fatores, inclusive o acaso de meio ambiente favorável, mas sobretudo graças à educação das novas gerações, que permitiu substituir a simbiose instintiva dos demais animais pelo manuseio do mundo feito pelos seres humanos, graças à lógica da mente comandando a força ou fragilidade das mãos e dos pés.

Por dezenas de milênios, a educação consistiu na transmissão simples do conhecimento primário para permitir a sobrevivência no meio ambiente. Educação era sinônimo de transmissão da capacidade de adaptação não mais simples pela convivência natural com o resto do mundo. Quanto mais hostil, maior a exigência da mente para obter resiliência ou emigrar. Até hoje, os povos originários que sobrevivem isolados praticam esta educação originária, na transmissão do conhecimento primário. Onde todos são educadores e todos são educandos, aprendendo a sobreviver com as ferramentas que aprendem a fazer usufruindo da vida lúdica, inclusive graças a objetos de arte simples.

  1. O mundo pós primitivo e pré-industrial

Foram necessários milênios para as sociedades perceberem que o conceito de educação precisava evoluir. Ao lado da resiliência, em quase simbiose com a natureza, surgiu o domínio da agricultura, construção de moradia, a criação de armas, o conhecimento para sacerdotes, feiticeiros e de praticantes de medicina primitiva, e as ideias para os contadores de histórias.

A educação passou a servir para formar pessoas com o propósito de aumentar o bem-estar, a riqueza, a segurança, a saúde, a promoção de valores éticos e obras estéticas. A escola, transmitir conhecimento científico, tecnológico, filosófico e artístico, servir para ensinar as pessoas a entenderem os mistérios e a deslumbrar-se com as belezas do mundo, desejar mudar o mundo para fazê-lo melhor e mais belo, dentro dos limites da comunidade.

Esta escola ajudou a formar impérios políticos, na China, na Grécia e em Roma, e sabedoria, além de avanços técnicos. Embora apenas para poucos, formou filósofos, cientistas, literatos, sacerdotes, soldados e auxiliares para os governantes, deixando a população ao largo, quase todos analfabetos ou semialfabetizados. Os artesãos continuavam sendo formados pela própria família, fora da escola. Com todas suas limitações e restrita a poucos, esta escola conseguiu levar a humanidade até o Renascimento dos grandes pensadores, cientistas e literatos.

  1. O mundo industrial

A Revolução Industrial passou a exigir educação para formar o cidadão urbano, social e produtivo em conjunto. A formação espontânea do artesão ou agricultor isolado na família e na pequena comunidade agora exigia formar operário que soubesse trabalhar em linha de produção, saber operar máquinas, viver em cidades e aceitar as novas condições de vida. Também surgiu a necessidade de educar os chefes, coordenadores, organizadores, inventores, engenheiros e economistas. A palavra emprego passou a fazer parte do dicionário da linguagem educativa.

  1. Era atual

O momento que atravessamos no século XXI, na Era Antropoceno, exige que educação seja ampliada a todos os seres humanos, nenhum deixado para trás. A humanidade conseguiu globalizar a economia, mas precisa atender todos os seres humanos com escola de qualidade. Ajustado para levar em conta o mundo global e o poder monumental, inclusive catastrófico, tanto na ciência e na tecnologia quanto nos valores morais. Para os descendentes atuais dos primeiros homo sapiens, surge a necessidade de ampliar o horizonte da educação para aprender a cuidar da Terra, ser solidário com todos os seres humanos e com a natureza, conviver com as incertezas, aprender a aprender. A educação que ensinava a fabricar e jogar flechas nos inimigos não serve para o tempo da bomba atômica, a educação do artesão não serve para os economistas e engenheiros do supermercado no mundo consumista-global-digital-automatizado. A escola da Era Antropoceno deve atender todos os seres humanos, não importa o país, nem a classe social ou a idade. A dinâmica como evolui o conhecimento exige que a escola atenda não apenas as crianças para passar conhecimento de uma geração a outra. Os riscos de deixar ser qualquer cidadão sem educação exige educar a todos em todas as partes, e a dinâmica como conhecimento evolui exige educar em todas as idades. Cuidar da permanente reciclagem de cada pessoa para que ela acompanhe o pensamento, as ideias e as técnicas que se sucedem a cada instante. O poder devastador do conhecimento científico e técnico exige uma educação que forme seres humanos solidários com a natureza e com todos os seres humanos. Que ensine a deslumbrar-se com as belezas, entender os mistérios, sentir-se parte do equilíbrio ecológico, querer mudar o mundo para melhor, moral e ludicamente, e mais belo estética e espiritualmente.

Não mais apenas a solidariedade com a família, com o clã, a cidade, o país, mas solidariedade mundial com todos os seres humanos e com o que não é humano, toda a natureza.

A educação precisa alertar para a catástrofe e ensinar a construir um mundo melhor, mais belo e sustentável: buscar o equilíbrio ecológico nos recursos e ter o entendimento de que a sobrevivência de cada espécie enriquece o ser humano. A educação deve servir para eliminar a ditadura do PIB como definidor de riqueza, e adotar indicadores mais amplos, incorporando os valores do bem-estar, da sustentabilidade e do respeito aos valores morais.

A educação do futuro deve ensinar a não temer o futuro, nem desprezar o passado. Para tanto, será preciso considerar a educação não apenas como ferramenta, mas como o motor do progresso. A educação deve ser meio e finalidade do processo de evolução humana.

Educar para a incerteza, para a complexidade e para a Terra-Pátria, educar para imaginar futuros diferentes. Educar para o futuro é educar para educarmos o futuro.

Por isto, a necessidade de uma nova palavra: educacionismo e em consequência educacionista. (continua)