Após ganhar um dinheirinho no bicho, João Calado decidiu virar empresário. Pediu ao Chat GPT que fizesse o plano de negócios para um bordel com cinco ou seis putas. A resposta recebida foi decepcionante: “não posso fornecer assistência para atividades ilegais ou imorais. Se você tiver alguma outra ideia de negócio legal e ética, ficarei feliz em ajudar”. – “Tenho”, disse Joca, falando sozinho, “mas não é tão boa”. E acionou, de novo, o aplicativo: “Faça o projeto para uma igreja no Recife”.
Foi respondido afirmativamente. No primeiro parágrafo, a gerigonça eletrônica definia como missão do negócio “promover a fé cristã, proporcionando um espaço de adoração, comunhão e serviço à comunidade local, através da pregação da Palavra de Deus e do amor ao próximo”. Olhando para a tela, o homem sorriu: “tás por fora!” De todo modo, aquilo lhe ajudaria. Por exemplo, ao lembrar ser necessário fazer uma análise de mercado que identificasse bairros com potencial para atrair clientes. E examinar a concorrência, “com o mapeamento de outras igrejas na área e a especificação dos diferenciais que a nossa pode oferecer”.
“O GPT falando em nossa igreja?” Joca surpreendeu-se, mas continuou a ler. Na próxima linha, o aplicativo discorria sobre as estratégias de marketing online e off-line; site, mídias sociais, panfletos. “Não se esqueça da organização de eventos de caráter social e espiritual, para envolver a comunidade”, recomendava. A estrutura administrativa da empresa incluiria o pastor, os membros da diretoria e os líderes de ministérios. – E a grana? A grana? – inquietava-se o empreendedor.
No prosseguimento, o plano de negócios fazia uma lista de gastos com “locação ou compra de espaço, salários, despesas operacionais, investimentos em marketing, etc.” Por fim, tardiamente, deve-se admitir, apareciam as “fontes de financiamento: contribuições regulares da congregação, doações eventuais, atividades beneficentes”. – Com isso aí só, ninguém enrica –, pensou o candidato a empresário. – Não compensa –. Mas, a despeito desta avaliação pessimista, foi em frente com a ideia de investir.
Melhor que não o tivesse feito: a igreja No Início, Era a Verba jamais deu lucro. Em retrospecto, podia-se ver que seu dono cometera um erro fatal na localização do empreendimento, pois o bairro escolhido registrava um dos menores índices de idiotas por metro quadrado da capital pernambucana. Mas, disso o GPT só ficou sabendo depois que o IBGE divulgou os resultados do censo demográfico. Com atraso.
Tão logo percebeu que as coisas andavam mal no ramo religioso, Joca inventou um slogan, para seu uso exclusivo: “no início, era a verba; no fim, os prejuízos”. Com tal certeza, começou a separar nas receitas da igreja os dez por cento que pertenciam a Deus dos noventa a que César tinha direito. Assim, nem todo o dinheiro foi perdido e, depois de alguns meses, o pastor fracassado havia se tornado um agiota de sucesso.
Dessa forma, mesmo sem a ajuda da inteligência artificial que, de novo, se recusara a colaborar (ô coisinha antiquada), João Calado virou o maior microempresário individual do Brasil. Agora, está pensando em entrar na política.
Quando Gustavo Maia Gomes anunciou aqui, ha duas semanas, sua chegada à “Será?” disse que tinha obtido licença para contar mentiras com a desculpa de escrever ficção. Pois já na introdução só apresentou verdades, escondidas na zoeira. Dessa vez mais verdades, sob o manto sarcástico, neste país em que microempresários criativos abundam.
Comentários benevolentes vindos de uma pessoa de sua estatura intelectual são muito gratificantes.