No mesmo dia em que o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná começou o julgamento de cassação de mandato do ex-juiz Sérgio Moro, herói da Operação Lava Jato, o ex-deputado José Dirceu, vilão do mensalão e do Petrolão, discursava com pompa e brilho no plenário do Senado Federal. A coincidência parecia indicar uma reviravolta na posição de herói e vilão de duas importantes personalidades políticas do Brasil.
No auge da operação Lava Jato, Sérgio Moro era um herói nacional, jogou políticos e empresários corruptos na prisão, recuperou milhões das operações ilegais e realimentou as esperanças dos brasileiros no combate estruturado da corrupção endêmica e histórica do Brasil. Entre os condenados e presos pela Operação Lava Jato por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro estavam o atual presidente da República Lula da Silva e o inefável ex-deputado José Dirceu, um dos mais destacados dirigentes do PT-Partido dos Trabalhadores. Durante os anos de sucesso da operação Lava Jato, quando Sérgio Moro liderou o enfrentamento da corrupção, Lula e Dirceu eram os vilões nacionais, conhecidos pela rede de corrupção do setor público implantada no Brasil.
Passados alguns anos, o STF-Supremo Tribunal Federal decidiu anular parte das condenações da Lava Jato, com um argumento burocrático (Curitiba não seria o fórum adequado), abrindo caminho para a volta de Lula da Silva à política, num ambiente de forte polarização com o alucinado direitista Jair Bolsonaro. Vitorioso, Lula assumiu a Presidência da República, tendo ainda que enfrentar o projeto golpista de Bolsonaro, procurando recuperar sua imagem de salvador da pátria. O oportunismo de Moro, aliando-se a Bolsonaro, alimentou o movimento político e jurídico de desmoralização da Operação Lava Jato, até porque nas altas cúpulas de Brasília existia mágoa e medo do Juiz justiceiro. Entre outras medidas, o STF suspendeu acordos de leniência de empresas que reconheciam os seus crimes de corrupção e tinham devolvido bilhões aos cofres públicos. Isolado politicamente, o ex-juiz Sérgio Moro perdeu os louros adquiridos na luta contra a corrupção. Mesmo que a maioria da população ainda considere que a Lava Jato foi um marco neste combate à corrupção, Moro não tem mais o prestígio do passado. Por outro lado, sem nunca ter sido um líder popular, Zé Dirceu tem força dentro do partido que voltou ao poder, abrindo caminho para a sua volta à política. Não será um herói, mas tende a apagar a imagem de vilania que carrega desde o mensalão.
Oh! tristeza! Está difícilimo escrever editoriais hoje em dia. Tudo somado e deduzido, só sobraram vilões nessa gangorra.
Será?
Na Itália, em 1992, no desmonte da Operação Mãos Limpas, semelhante à Lava Jato, a Máfia assassinou o juiz Giovanni Falcone, juntamente com sua esposa e dois guarda-costas – quando o carro do magistrado foi atingido pela explosão de uma tonelada de TNT – colocada num túnel de drenagem, sob a rodovia que o levava a Nápoles.
O juiz Falcone era o líder da Operação Mãos Limpas, na região napolitana, que tentava retirar a Máfia do governo italiano.
Como se sabe, os ladrões terminaram por voltar ao poder na Itália com Berlusconi e seus apadrinhados.
Será que aqui no Brasil, Collor, Lula, Bolsonaro e o restante da máfia de políticos corruptos nacionais deixarão o Juiz Sérgio Moro com vida, caso ele não seja cassado?(Fernando Ribeiro de Gusmao).
A questão é bem pertinente. Aguardemos.