A eleição para o Parlamento Europeu assustou os observadores, confirmando uma tendência de crescimento da direita e, mesmo, da extrema-direita na Europa, acompanhado do declínio dos verdes no continente. O impacto da globalização e das inovações tecnológicas sobre o emprego e, principalmente, a rejeição às pressões migratórias são os alimentos básicos do discurso da extrema-direita. Mas não se pode falar de uma virada de direita. Os partidos de Centro continuam tendo o maior peso no Parlamento Europeu e os dois grandes blocos partidários da extrema-direita perderam 2% das cadeiras: o “Reformistas e conservadores”, liderado por Georgia Meloni, primeira ministra da Itália, teve um aumento em 18% das cadeiras, passando a ser a quarta maior força europeia, mas o bloco “Identidade e democracia”, de Marine Le Pen e do ultradireitista alemão “Alternativa pela Alemanha”, perdeu 20% dos assentos. Mesmo assim, uma aliança dos dois blocos conta com quase 37% das cadeiras do Parlamento Europeu. Este crescimento da direita radical, principalmente do bloco partidário de Meloni, foi muito desigual no conjunto do continente e resultou dos votos nos dois países com maior número de cadeiras, Alemanha e França.
O “Partido Popular Europeu”, de centro, que já era o maior bloco partidário, ganhou mais quatro cadeiras, reunindo, sozinho, quase 26% da representação no Parlamento, podendo alcançar quase a maioria, em aliança com os “Socialistas e democratas” que alcançaram 18,6% das cadeiras, embora tenham perdido 20 cadeiras. Desta forma, o centro ainda será a força dominante no Parlamento, podendo se aliar à esquerda ou à direita, mas isolando os agrupamentos eurocéticos e ultraconservadores da cena europeia.
O resultado mais preocupante destas eleições foi a derrota dos Verdes, que perderam 25% das cadeiras do Parlamento, fato especialmente relevante diante do debate mundial em torno das mudanças climáticas e das exigências de políticas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Os verdes caíram do quarto para o sexto maior agrupamento partidário da Europa. É verdade que a questão ambiental vem sendo incorporada em outros partidos europeus, incluindo o bloco “Renovar a Europa” que, em todo caso, teve a maior perda de cadeiras (cerca de 27%), mesmo ainda se mantendo como a terceira maior força do Parlamento. Vale lembrar, por outro lado, que “Partido Popular Europeu” é o agrupamento de Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia, que tem sido uma liderança importante na defesa de políticas ambientais.
Tudo indica, portanto, que não haverá uma mudança relevante nas decisões políticas europeias. E mesmo com o crescimento da xenofobia, principal bandeira da extrema direita, a Europa continua sendo um centro importante de defesa dos valores civilizatórios do planeta.
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