Foto de ev na Unsplash

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A extrema direita europeia cresceu, mas não conseguiu abocanhar, como se temia, o Parlamento Europeu. Essa foi a boa notícia, seguida da surpresa negativa da diminuição do número dos deputados verdes ecologistas nas eleições europeias de domingo.

As grandes surpresas ocorreram todas na França – a filha e a neta do criador da Frente Nacional de extrema direita, Jean Marie Le Pen, qualificado na época de nazifascista, reuniram 32% do total dos votos no partido Reunião Nacional e 5% no partido Reconquista, versões light da Frente Nacional, enquanto Emmanuel Macron ficou com apenas 15%.

Os socialistas de Raphael Glucksmann reuniram 14% dos votos e a extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon, despencou para 10% depois de ter conseguido 42%, há dois anos, embora tenha eleito a franco-palestina Rima Hassan para o Parlamento Europeu.

Diante da amarga derrota, o presidente francês Emmanuel Macron surpreendeu toda classe política, inclusive os eleitores franceses decretando a dissolução da Assembléia Nacional e a convocação de eleições, num prazo bem apertado, nos dias 30 de junho e 7 de julho.

Essa decisão, tomada antes mesmo da divulgação dos resultados finais, deixou atônitos os melhores conhecedores dos meandros da política francesa, pois, no caso da extrema direita conquistar a maioria parlamentar, Macron terá de governar com um primeiro-ministro da Reunião Nacional. E isso é o mais provável. Mesmo que Macron consiga o apoio do centro e direita democrática será difícil ultrapassar os 37% da extrema direita!

Mesmo porque o partido da extrema direita Reunião Nacional está ativo em busca de aliados e acordos. Assim, já na terça-feira negociava um acordo com o presidente do partido da direita tradicional os Republicanos, justamente o partido de De Gaulle, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

A divulgação dessa negociação isolada do presidente do partido dos Republicanos Eric Ciotti com a extrema direita de Marine Le Pen, revelada por ele mesmo numa entrevista à televisão francesa, provocou uma revolta na direção republicana que, numa reunião extraordinária destituiu seu presidente e o excluiu do grupo. Para os republicanos, imaginar uma união com a extrema direita constitui uma afronta, uma inominável vergonha e um desrespeito à memória dos antigos dirigentes do partido Republicanos.

Como o tempo é curto para celebrar uniões, a esquerda francesa junto com os Verdes, divulgou ter encontrado um acordo de princípio, batizado de nova Frente Popular, com um programa a ser definido nestes próximos dias. Numa entrevista, o presidente Emmanuel Macron ironizou esse acordo de divergências, no qual a parte mais forte fica com o partido de Mélenchon, França Insubmissa, acusado de ter feito uma campanha antissemita para as Eleições Europeias.

Foi Mélenchon quem provocou o fim da Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) ao recusar considerar ter sido terrorista o ataque do Hamas do 7 de outubro. A comunidade judaica francesa chama de infame o acordo dos partidos de esquerda com o LFI, França Insubmissa de Mélenchon, considerado um partido de extrema esquerda islamizado e sem laicidade.

Diante de uma certa indecisão do líder socialista Raphael Glucksmann em continuar na Frente Popular sob a liderança de Mélenchon, o presidente Macron procura atrair Glucksmann para reforçar seu partido.

Até o dia 30, pode haver novos acordos e desacordos. Numa entrevista para o importante canal TF1, ficou claro que, no caso de uma vitória da Frente Popular, o primeiro-ministro seria Mélenchon. Isso poderá desestimular muito eleitor de esquerda.

Nas primeiras sondagens divulgadas (Harris Interactive-Toluna, Opinionway, Challenges, M6 E RTL) preveem uma vitória do partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, conduzido por Jordan Bardella, com 33 ou 34% dos votos. A esquerda unida 22%, e macronistas 19%. A vitória da extrema direita com 235 a 265 deputados será relativa, não lhe dará maioria para governar.