Dos dois lados do Atlântico Norte, grandes placas tectônicas políticas tremeram nesta semana, gerando uma enorme incerteza em relação ao futuro do planeta. O lamentável desempenho do presidente Joe Biden no debate presidencial antecipado assustou as lideranças democráticas de todo o mundo, ao reforçar a probabilidade da volta do negacionista e autoritário Donald Trump à presidência da maior potência econômica e militar. Do outro lado do oceano, na França, o resultado do primeiro turno das eleições parlamentares mostrou a força da extrema direita, com chances reais de formar o governo na nação símbolo da democracia e dos valores civilizatórios. A situação ainda não está definida, mas os sinais são alarmantes, pela fragilidade do Partido Democrata nos Estados Unidos e pela ascensão da direita francesa, populista, xenófoba e protecionista. Não bastassem os eventos climáticos extremos, os descaminhos políticos nas duas grandes potências jogam o mundo diante de uma encruzilhada política, de impacto significativo na história da civilização.
O futuro político dos Estados Unidos depende da decisão do atual presidente, Joe Biden, sob forte pressão dos democratas para abandonar a disputa e abrir caminho para uma liderança democrata. O cientista político Eduardo Viola avalia dois cenários: se Biden mantiver a candidatura, certamente será esmagado por Trump, podendo, além do mais, inviabilizar a eleição de alguns governadores e senadores do partido; se o presidente sair do páreo, os democratas passam a ter chances reais de vitória. Pesquisa da CNN mostra que, com a substituição de Biden por Kamala Harris, a vantagem de Trump cai para apenas dois pontos percentuais. Sem Biden, os democratas teriam três outras alternativas com possibilidades efetivas: os governadores da Califórnia e de Michigan e o Secretário de Transportes perderiam para Trump por cinco pontos, nada incontornável numa campanha que reacenda a confiança e a mobilização dos democratas.
Na França, o quadro é mais preocupante. Ninguém duvida mais que o Reagrupamento Nacional, de extrema-direita, será o maior partido no Parlamento, embora ainda seja possível impedir que Jorge Bardella, jovem afilhado de Marine Le Pen, venha a ser o novo primeiro-ministro francês. Nesta semana, parece ter se formado uma onda antifascista na França, unindo o partido de Emmanuel Macron (En Marche!) e a esquerda da Nova Frente Popular na disputa do segundo turno, em grande parte dos distritos. Na melhor das hipóteses, a França vai entrar num período de instabilidade e incerteza política, que tende a contaminar a Europa, com repercussões globais.
Com Trump e Le Pen ao mesmo tempo no poder de duas das grandes potências, isso provocará uma configuração desastrosa da geopolítica, num momento delicado de mudanças climáticas e da aventura expansionista de Putin, o terceiro polo da direita autoritária global.
Perfeito, o editorial.
Só discordo da “aventura expansionista” de Putin. Para um país que perdeu 20 milhões de habitantes numa guerra, as preocupações são sempre defensivas. E o histórico da Rússia é de invasões pelos países ocidentais: Sacro Império Romano-Germânico, Napoleão, Hitler.
E não se diga que o ditador Putin não tem apoio nacional. As massas que consegue reunir em seu suporte são testemunho disso.
Não fosse assim, aconteceria com ele o que aconteceu com o ditador romeno Ceaucesco: convocou uma multidão em seu apoio, foi vaiado, rechaçado e derrubado.
Clemente, você resgata fatos da história. Mas é fato também que Putin é ditador e é fato que invadiu a Ucrânia – ainda que seja fato também que já antes da invasão militares ucranianos estivessem matando russos naquelas proivincias em que russófilos haviam ganho eleições, e as eleições foram consideradas fraudadas. Anda difícil estabecer os fatoss, mais ainda em estado de guerra. Eu acho até temerário afirmar que Zelenski ganharia eleições não fosse o estado de guerra. O Editorial é sensato, cabeça fria. Pois atualmente a gente não pode nem defender negociações de paz entre Russia e Ucrânia que já é acusado de ser partidário de Putin…
É conveniente que se observe que em nações, onde há um sistema em que o país é governado por um primeiro ministro, as crises são melhores resolvidas ou até melhores administradas. A Europa é o melhor exemplo desta afirmação. França, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha,… . Enquanto aqueles, das chamadas Repúblicas Federalistas, apresentam maiores conflitos para administrar pelo menos seus problemas de ordem política, administrativa, social,… .