Xadrez

Xadrez

O governo de Donald Trump subverte completamente o xadrez geopolítico global quando abandona a Ucrânia, despreza a Europa e se alia a Vladimir Putin, presidente de um histórico adversário dos Estados Unidos. Esta virada na política externa dos Estados Unidos fica evidente no tratamento diferenciado que Trump dá ao presidente Volodymir Zelensky, da Ucrânia, exigindo a sua capitulação diante da invasão russa e a cessão dos minerais estratégicos como pagamento pela ajuda norte-americana. E, mais ainda, quando inicia negociações de paz com Putin sem a participação do país invadido, a Ucrânia, e passando por cima da própria Europa. A grosseria e a humilhação do presidente Zelensky, por ocasião da reunião no Salão Oval da Casa Branca, confirma a estranha aliança de Trump com a Rússia, e a suspensão da ajuda militar e da troca de informações com a Ucrânia abre o caminho para a ofensiva russa no território ucraniano. 

A Ucrânia está espremida entre dois imperialistas que pretendem dividir seu território e suas riquezas minerais estratégicas: o imperialismo russo invadiu a Ucrânia, provoca destruição e morte e ocupa um terço do seu território, e o imperialismo norte-americano abusa da chantagem com um país fragilizado, forçando um acordo para extorquir as suas riquezas minerais. A aliança de Trump com Putin ficou mais evidente quando os Estados Unidos votaram contra uma resolução das Nações Unidas que culpava a Rússia pela invasão da Ucrânia, juntando-se à própria Rússia, à Coreia do Norte, a Belarus, Eritreia e Síria (China, Nicarágua, Cuba, Índia, Irã e Iraque se abstiveram).

Trump quebrou o tabuleiro do jogo diplomático e político mundial, fortalecendo a Rússia e se afastando da histórica aliança política, econômica e militar com a Europa, sem falar na guerra comercial com aliados e concorrentes, com destaque para Canadá e México. O mundo começa a reagir e enfrentar os descalabros de Trump, e a se preparar para a nova configuração geopolítica. Num duro e elegante pronunciamento, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que iria retaliar o protecionismo de Trump, e alertou o povo norte-americano para o desastre econômico da guerra comercial do seu presidente. E a Europa se levanta com indignação, percebendo que Trump “não se importa muito com o destino da Europa” (futuro chanceler alemão Friedrich Merz), definindo uma estratégia comum para assegurar a defesa e a segurança do continente. Como falou o presidente Emmanuel Macron em mensagem à nação, “a Rússia se tornou uma ameaça para a França e a Europa” e os europeus não contarão mais com os Estados Unidos para a defesa e segurança do continente. O mundo entra numa nova corrida armamentista, com elevado risco de escalonamento da guerra da Ucrânia.