
Gaza
E se o Hamas, considerado por uns como um movimento islâmico nacionalista palestino e por outros como um movimento islâmico terrorista, tiver cometido um êrro fatal ou um ato suicida ao atacar os kibutz israelenses vizinhos de Gaza, no 7 de outubro de 2023? E se esse erro persiste ao se negar a libertar os reféns ainda vivos?
O que imaginavam Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar, dirigentes do Hamas, quando desfecharam o ataque de surpresa, provocando cerca de 1200 mortes, a maioria de jovens civis, e fazendo mais de duas centenas de reféns? Segundo informações, o ataque foi também surpresa para os dirigentes do Irã, o principal apoiador do Hamas, naturalmente por imaginarem a resposta de Israel.
Em todo caso, não poderiam ter imaginado algo tão catastrófico com mais de 50 mil palestinos mortos, uma grande parte mulheres e crianças, uma grande maioria dos prédios arrasados, a morte de ambos e a quase destruição do próprio Hamas.
Essa indagação foi feita pela imprensa europeia ao divulgar, no fim de março, as primeiras manifestações dos gazaouis, os palestinos habitantes de Gaza, contra o Hamas. O jornal suíço Le temps publicava, no fim de março, a presença dos gazaouis nas ruas de diversas cidades para pedir um fim à guerra e “para manifestar sua cólera contra o grupo islâmico Hamas”.
Manifestações ocorridas em diversas cidades da Faixa de Gaza e, imagina-se só agora possíveis com o enfraquecimento do Hamas, pois aplicava um regime de controle severo da população, tipo teocracia islâmica. Os cartazes empunhados por homens de todas idades pediam o fim da guerra, numa mensagem para Israel parar os bombardeios mas igualmente de reprovação ao Hamas, considerado o responsável por ter provocado a represália de Israel.
O mesmo Le Temps, na sua meia-página sobre a manifestação, publica a foto de uma criança sentada nos ombros do pai segurando um cartaz no qual se lê: “as crianças da Palestina querem viver”. O jornal entrevistou Leila, mãe palestina de 27 anos, dizendo “Nossa voz precisa ser ouvida, temos sofrido demais! Não temos medo de represálias”, referindo-se ao Hamas.
Outra mãe, Lahia, vivendo com o marido e uma filha de dois anos, descreve o caos de sua vida “que é o mesmo de todos os palestinos de
Gaza”. Depois de descrever o bloqueio israelense que lhes priva de água, de alimentos e escolas para as crianças, ela clama “pelo fim da guerra e pela saída de Gaza do Hamas, que não se interessa pelos nossos sofrimentos”.
Ela diferencia os combatentes do Hamas dos seus dirigentes “que
vivem tranquilamente no Catar e na Turquia. São eles que devem deixar o poder”.
Como Lahia, os manifestantes querem outro governo com dirigentes em Gaza e empenhados na reconstrução das escolas e hospitais. Os manifestantes são considerados pelo Hamas como traidores, mas contam com o apoio discreto do Fathah, movimento palestino expulso de Gaza em 2006, cuja origem vem da OLEP de Yasser Arafat, que não era pela destruição de Israel mas pela existência de dois Estados.
Essas manifestações mostram também uma mudança de opinião dos habitantes de Gaza que, no mês seguinte ao ataque do 7 de outubro, numa sondagem oficial realizada, mostrava o apoio de três quartos da população ao Hamas. Esse apoio já não existe de acordo com avaliação feita pela rádio Europe 1.
Os palestinos não devem se esquecer que israel além do Hamas também quer os palestinos fora de Gaza