Francisco de Goya y Lucientes - Duelo a garrotazos (1823)

Francisco de Goya y Lucientes – Duelo a garrotazos (1823)

Estados Unidos e China não são apenas as duas maiores economias do mundo. São países que, ao longo das últimas décadas, têm uma grande integração econômica no comércio e no sistema financeiro global e, portanto, forte interdependência. Eles têm sido as locomotivas da economia mundial, tendo juntos cerca de 44% do PIB-Produto Interno Bruto mundial, com a China registrando um dinamismo superior aos Estados Unidos, que têm a maior base econômica do planeta (26,4% de toda a economia mundial). A China exporta quase três trilhões de dólares, equivalentes a 13,3% de todas as exportações mundiais, sendo que 17,6% do total exportado vai para os Estados Unidos, o segundo maior exportador e um grande mercado consumidor do mundo. Para completar esta integração das duas grandes economias, a China é um dos grandes financiadores da dívida pública dos Estados Unidos, detendo 761 bilhões de títulos (superada apenas pelo Japão, com um trilhão), o que reforça a interdependência das duas economias e a influência chinesa no sistema financeiro estadunidense. 

De todo o exposto, fica evidente que os dois gigantes afundarão juntos numa escalada dessa guerra comercial, principalmente se ela avançar para disputas cambiais e crise financeira. E, se eles afundam, levam juntos a economia mundial para o abismo. O comércio mundial entra numa profunda desorganização, as cadeias globais de valor travam, e o suprimento de insumos e serviços pode colapsar num nível mais profundo que o experimentado na pandemia de Covid-19. E, no caso de desvalorizações dos títulos da dívida dos Estados Unidos, o mundo pode viver uma crise financeira pior do que a que tivermos em 2008. 

Estamos diante do apocalipse? A estupidez de Trump convoca as trombetas do apocalipse, e não só pelo terremoto econômico. Ele ameaça o mundo com a guerra, com a chantagem com o Irã e a humanidade, com a sua preferência fanática pelos combustíveis fósseis e a aversão a qualquer negociação ou definição de metas para redução das emissões de gases de efeito estufa. É preciso parar essa “marcha da insensatez”.