
Corruptos
Depois de tantos processos, inquéritos e prisões de corruptos – políticos, dirigentes de estatais e de órgãos públicos – dos últimos anos, os brasileiros poderiam esperar (ter a esperança) que os espertos deste país iriam ter dificuldades e mais cuidado com as operações ilegais, o que reduziria a corrupção no Brasil. Mas, persiste um clima de impunidade dos corruptos com dinheiro e com poder, protegidos por sutilezas jurídicas e processuais que adiam julgamentos e anulam sentenças e prisões, por maiores que sejam as evidências e provas. Desde a Constituinte, vários órgãos públicos de fiscalização foram criados e muitas leis foram definidas, incluindo a Lei das Estatais, para coibir o ato criminoso da corrupção. E, no entanto, os escândalos se repetem e continuam evidenciando a contaminação das instituições públicas do Brasil pela praga da corrupção. Alguns bilhões de reais do dinheiro público continuam sendo desviados em propinas e práticas corruptas, recursos que poderiam ser aplicados em educação, inovação, infraestrutura e mesmo programas sociais fluem para as mãos de brasileiros desonestos.
Os brasileiros correm o risco de mergulhar numa resignação cínica, aceitando a perversão como parte arraigada da nossa cultura, de modo que temos de conviver com corrupção. Até porque, como sabemos todos, esta é uma mazela muito antiga na história brasileira. Há mais de cem anos, Rui Barbosa fazia um desabafo no Senado: “A corrupção, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas”.
O mais recente escândalo, os descontos indevidos e fraudulentos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS (6,3 bilhões de reais roubados) demonstra que a corrupção continua ativa nas instituições públicas brasileiras. Entra governo e sai governo, e os corruptos não temem e não se contêm nos seus esquemas, apesar da atuação dos órgãos de controle e fiscalização. O presidente Lula da Silva, é certo, de imediato, demitiu o presidente do INSS-Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, mas não ousa afastar o seu superior, o ministro Carlos Lupi, da Previdência Social, indicado do PDT para o cargo, porque é refém dos partidos e políticos que formam a sua extensa, mas, infiel base parlamentar. Sobra a nós, brasileiros, recorrer à ironia de Stanislaw Ponte Preta, que desanimado com a corrupção do seu tempo (meados do século passado) declarou: “Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”
Apenas uma ressalva: a frase final, na verdade, é de Aparício Torelly, o “Barão de Itararé”, decano dos humoristas brasileiros inteligentes.
Stanislaw Ponte Preta e Barão de Itararé, dois ícones brasileiros cujos nomes e histórias não conhecia.
Por isso gosto dessa revista, sempre aprendo coisas novas.