O presidente Jair Bolsonaro abusa da grosseria e de expressões rasteiras nos pronunciamentos internacionais, e insulta governantes e políticos de países aliados, disseminando a discórdia, quebrando a tradição da diplomacia brasileira e comprometendo as alianças e os acordos comerciais. Na mesma semana, tratou com desdém o governo da Alemanha e agrediu o candidato de oposição da Argentina, vitorioso nas recentes eleições primárias, que pode vir a ser o presidente deste grande aliado do Brasil na América Latina e no MERCOSUL. “Ela (Alemanha) não vai mais comprar a Amazônia. Vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer um bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso”, foi a resposta indelicada, para dizer o mínimo, de Bolsonaro à decisão do governo alemão de suspender os recursos destinados a projetos de proteção da floresta. Claro que os 35 milhões de euros da Alemanha não são decisivos para conter o desmatamento da Amazônia, que depende, antes de tudo, da atuação governamental na fiscalização e regulação das atividades econômicas na região. O crescimento recente do desmatamento, as demonstrações de leniência ambiental do governo, e agora esta grosseria desnecessária de Bolsonaro com um dos principais países da Europa comprometem a implementação do importante acordo comercial MERCOSUL-EU. E o próprio MERCOSUL deve sofrer abalos sérios, no caso da vitória de Alberto Fernandez nas eleições presidenciais da Argentina, pela tendência protecionista dos peronistas, e mais ainda pelo clima de hostilidade criado pelas declarações desrespeitosas do presidente brasileiro, chamando a oposição argentina de “esquerdalha” e comparando o seu candidato a Nicolás Maduro. Além de desagregadoras, estas declarações de Bolsonaro são de uma enorme estupidez, porque, ao contrário do que pretende, devem fortalecer a candidatura do seu desafeto argentino. Por ironia e graças à sua estupidez, Bolsonaro pode ser o maior cabo eleitoral do peronismo.
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Se a alemanha doou 200 milhoes e a Noruega 3,5 bilhoes de reais para proteger a Amazonia, creio que jogaram dinheiro fora desde o governo petista, pois a floresta jamais deixou de ser espoliada de suas arvores. O objetivo do Bolsonaro é matar as ONGs, ou seja deixa-las sem o rico dinheiro que paga os salarios e as pequeisas (?) dos seus consultores (?).
Permitam-me, à guisa de ‘comentário’, transcrever notas de minha coluna “Comunicação & Problemas” deste sábado, 17.08:
Bola da vez
A Argentina é a bola da vez e está bem ali, parcela importante de nosso pedaço de mundo – apesar do desdém com que a trata o ministro Guedes.
Seis décadas de populismo peronista entremeado de surtos liberais, às vezes sobrepondo-se e-ou cooperando (Argentina não é pra principiantes…, poderia ter dito Piazzolla, assim um Tom Jobim porteño) malograram uma das melhores esperanças mundiais de nação bem sucedida, mercê dos recursos naturais, do povo operoso, culto e centrado em sua peculiar civilização.
Tacape em vez de luvas
E se a Argentina é tão próxima, nossas economia e demais cultura entrelaçam-se, interdependem e mutuamente enriquecem-se – condenamo-nos a amizade eterna –, o governo brasileiro haveria de usar as luvas de pelica de nossa competente diplomacia ao manifestar-se sobre o que ocorre na vizinha nação, que vive um momento crítico.
Infelizmente, em vez da elegância itamaratyana entrou em cena a rudeza de Bolsonaro, a brandir tacape para intrometer-se no processo eleitoral dos vizinhos.
Por Dios, no!
Consta que Macri, na difícil campanha por reeleger-se, teria pedido “por amor de Dios!” que Bolsonaro “no me venga a ayudar” (?).
Adiantou nada. Em pronunciamento no Rio Grande do Sul, o presidente do Brasil arvorou-se tutor do eleitorado argentino, fez-se indesejado cabo eleitoral, foi intempestivo e grosseiro.
Recordista em erros
Há de ser um recorde, numa única frase o presidente cometeu cinco erros crassos, quatro contra os vizinhos e o quinto ofensivo a brasileiros:
(1) confundiu o peronismo, populismo velho de guerra, com esquerda, (2) atribuiu-lhe trajetória similar à dos congêneres de Venezuela, Bolívia, Equador (díspares entre si e nada a ver com peronismo), (3) prejudicou o aliado que pretendia ajudar;
não bastasse, (4) previu problemas aos gaúchos caso a “esquerdalha” argentina, neologismo de sua peculiar imaginação, derrote o aliado que dele, aliás, quer distância;
na sequência (5) ofendeu os roraimenses, ao predizer tragédia para o Rio Grande do Sul: transformar-se em “nova Roraima”.
Infelizmente tem razão o Editorial. E tem razão Marco Pontes em seu comentário: está ficando cada vez mais difícil, quase impossível, blindar a política econômica e os efeitos sobre a economia da caótica atuação do Presidente da República.