Editorial

Depois de cinco meses de propagação do Convid-19, o Brasil está chegando à marca desoladora de cem mil mortos pelo virus, superado apenas pelos Estados Unidos no total de vítimas, e situado na oitava posição em óbitos por milhão de habitantes. O resultado não é pior porque, apesar das vulnerabilidades conhecidas, o sistema público de saúde, os profissionais de frente do tratamento de enfermos e a maioria dos governos estaduais estão se desdobrando para conter a propagação do virus e para reduzir seu efeito letal nos contaminados.

Ao longo destes meses difíceis de controle e combate à pandemina, o presidente da República jogou contra, atrapalhando como pode, com seus posicionamentos e atitudes que confundem as medidas sanitárias, questionam as decisões dos governos estaduais, e mesmo dos seus seguidos Ministros da Saúde.

Politizando a orientação técnica da medicação apropriada para o tratamento da enfermidade, numa atitude infantil de efeito catastrófico, o presidente Jair Bolsonaro estimulou a população a desrespeitar as medidas de isolamento social e criou dificuldades para a relação dos médicos com os familiares dos enfermos. Com esta atitude diante de um tão grave problema, o presidente pode ser responsabilizado por uma parcela das cem mil vítimas do virus.

Mesmo com a tristeza da calamidade sanitária, o Brasil pode comemorar a demonstração de capacidade de reação do frágil e deficiente Sistema Público de Saúde e a competência e dedicação dos profissionais de sáude e dos técnicos de planejamento sanitário. E deve se orgulhar da excepcional competência das instituições e dos centros de pesquisa, incluindo departamentos das Universidades, e dos órgãos de estudos e planejamento de infectologia e virologia. Em algumas áreas de saúde pública, o Brasil está em nível dos países mais desenvolvidos do planeta, sendo os melhores exemplos a Fiocruz e o Instituto Butantã, que estão na pesquisa de ponta para produção de uma vacina contra o Covid-19. Apesar de tudo, ainda dá para acreditar no Brasil.