A Europa saiu na frente. No final do ano passado, a União Europeia lançou um ambicioso plano de reestruturação econômica para redução significativa da emissão de gases de efeito estufa, o European Green Deal, mais amplo e ousado que as metas definidas no Acordo de Paris. Na ocasião, o mundo vivia ainda sob o pesadelo Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, contestava os estudos científicos sobre as mudanças climáticas e rejeitava qualquer esforço para redução da emissão de gases de efeito estufa na maior economia do Mundo, desmontando tudo o que o presidente Barak Obama tinha construído.
Neste ano de 2020, antes mesmo de confirmada a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, a assembleia europeia aprovou uma redução de 60% das emissões até 2030, e anunciou a eliminação, até 2025, de todas as subvenções diretas e indiretas aos combustíveis fósseis. Agora, com o novo presidente eleito dos Estados Unidos, o mundo respira aliviado, e pode voltar a ter esperanças de ampliação e intensificação das medidas de redução drástica e em escala global das emissões dos gases de efeitos estufa. De imediato, os Estados Unidos vão voltar ao Acordo do Clima e o presidente eleito, Joe Biden, prometeu liderar um movimento mundial de combate às mudanças climáticas. Ao anunciar a nomeação de John Kerry (ex-secretário de Estado no governo Obama) como delegado especial para as mudanças climáticas, Biden demonstra a sua “determinação em combater o aquecimento global”, segundo suas próprias palavras, confirmando seu discurso de campanha.
Vale lembrar que Kerry participou ativamente das negociações do Acordo de Paris, e que considera as mudanças climáticas “a arma de destruição em massa mais temida do mundo”. Das palavras às ações existe, evidentemente, um longo caminho. Mesmo as ações costumam gerar efeitos lentos nas estruturas da economia global, e o mundo tem pressa. Mas a convergência do Acordo Verde europeu com a atenção ao meio ambiente, demonstrada pelo futuro presidente dos Estados Unidos, pode indicar um movimento de reorientação econômica que leve a uma economia de baixo carbono. O Brasil precisa engajar-se também neste acordo global pela economia verdade. Para isso, precisa superar o pesadelo chamado Bolsonaro.
Sem dúvida, medidas promissoras. E ninguém pode deixar de se alegrar com seu anúncio. Contudo, como diz o próprio editorial, é preciso esperar que as palavras se transformem em ação e que estas produzam os efeitos desejados. No momento, há uma boa convergência entre três dos grandes atores das mudanças climáticas = UE, EEUU e a China, que também caminha no mesmo sentido, prometendo descarbonizar a economia ainda mais rápido que os outros dois parceiros. Por enquanto são pronunciamentos, intenções. E destas, o inferno está cheio. Sozinhas, não serão suficientes, será preciso mais. Parar o extermínio da biodiversidade, o acúmulo de dejetos, sobretudo plásticos, no Oceano e proteger os tesouros que ainda restam da humanidade: Antártida, Amazonia e Oceanos. A adoção dos princípios da economia circular será imprescindível, a mudança na produção dos alimentos também, assim como a mudança no padrão de consumo entre os segmentos mais ricos da Humanidade. Talvez, dentro de dez anos, tenhamos que tomar outras medidas, ainda mais radicais, pois estas, se efetivadas, serão provavelmente insuficientes. Mas, por enquanto é torcer e cobrar. O mundo deu um passo no sentido da sustentabilidade. Vamos torcer que continue a caminhada.