A Compra do voto (1905) – José Malhoa.

 

Grande parte dos políticos brasileiros, de esquerda e de direita, são gigolôs dos miseráveis deste trágico país. Elegem-se e se perpetuam no poder comprando o voto dos pobres e miseráveis que, na sua desgraçada vida, não têm o menor interesse na política, não acreditam nas promessas dos candidatos (com a experiência acumulada) e não veem diferenças políticas e ideológicas entre os políticos (com toda razão). A pobreza é funcional ao jogo político e um estímulo a todas as formas de populismo e demagogia, utilizadas à exaustão nas campanhas eleitorais e nas propagandas dos partidos e dos governos. Por isso, os políticos, na sua grande maioria, não querem acabar com a pobreza, não pretendem superar as condições miseráveis de vida de milhões de brasileiros. Preferem oferecer assistência social e transferência de renda diretamente no bolso dos pobres, explorando política e eleitoralmente a gratidão dos miseráveis beneficiados com suas “bondades”. 

O caso mais recente e vergonhoso é esta “PEC da bondade”, aprovada pelo Senado por quase unanimidade. Afinal, todos são candidatos a algum cargo em outubro, vendendo sua generosidade pela fidelidade eleitoral dos miseráveis. Os políticos não fazem nada para reduzir os gastos públicos nos muitos e caros privilégios da República, o governo reduziu recursos destinados à educação, ao mesmo tempo em que o Congresso aumentou as dotações para as emendas dos parlamentares e do abjeto orçamento secreto, outra forma de compra indireta de votos. Mas agora, quando estamos a apenas três meses das eleições, o governo descobre que o Brasil tem muitos pobres e miseráveis, que são também eleitores, e aprova, com o apoio de toda a oposição, o aumento das transferências de renda e a criação de novos mecanismos de distribuição de benefícios. Às pressas, fazendo joguete da Constituição e violentando o regime fiscal, o Senado entregou ao governo 41 bilhões de reais, para tentar reverter a imagem negativa que tem entre os pobres. O Senado pisoteou o Teto de Gastos, que tinha sido aprovado pelo mesmo Congresso em 2017, mas é odiado pelos políticos, porque constitui, em última instância, a única arma que resta para a contenção da fúria populista e demagógica dos políticos brasileiros.