Apenas para fortalecer meus agradecimentos, permitam-me os que compõem a equipe editorial desta Revista fazer uma mera comparação, que pode transmitir aos desavisados uma medida injusta como escrita inicial. É que a dimensão do significado de ter aceito o convite e daí compor o grupo de articulistas da Revista só é menor para mim do que o desafio de cumprir bem essa missão. E isso impõe uma dose de responsabilidade engajada. Afinal, um gesto assim, que trata a gratidão pelo seu lado mais racional, costuma não transmitir uma emoção tão explícita, com a qual todos parecem estar melhor alinhados. Com esse estilo de agir, resta-me a certeza de cumprir o desafio do melhor modo possível.
Mais precisamente, a tarefa que foi atribuída pela editoria direcionou-me para as análises econômicas do setor cultural. Sem dúvida, até mesmo pela descrença de tantos agentes socioeconômicos, uma proposta que me impõe aquela dita responsabilidade. De fato, as proposições que mexem com a essência do que se entende como a economia da cultura têm-se revelado cada vez mais complexas. Embora já estejamos na era de um mundo bastante transformado por meio da criatividade e da inovação, muitos continuam sem enxergar a cultura como um vetor que tem contribuído para tantas mudanças.
Infelizmente, toda uma complexidade posta aqui em questão não está apenas no fazer acontecer uma produção, nem sempre meritória aos olhos desconfiados de parte da sociedade. Tão difícil ou pior é exercer uma mínima compreensão prevalecente, quando se percebe o ignorar do valor econômico da cultura. Algo visível por meio de aspectos triviais, como o caso dos desafios de custeio de distintos modos de organização da produção. Ou mesmo pelo fato de alguns julgarem irrelevante a dimensão de uma extensa e complexa cadeia produtiva, simplesmente capaz de gerar milhões de empregos e bilhões em renda.
Sobre os desdobramentos desse tema, muito tenho dito e escrito. Isso me dá uma sensação estranha, tal como me confirmasse que pregar num deserto parece mesmo não fazer o menor sentido. E o danado é perceber todo aquele efeito transformador se espraiar, hoje numa infeliz coincidência, justo por ter em conta um governo que dispensa, por motivações ideológicas fora de tempo, o papel das políticas públicas para o setor. Se essa conjugação tinha como parâmetro uma situação setorial em “3 D” (desconhecimento, desinformação e desleixo), tornou-se ainda mais fragilizada quando o ente governamental consagrou o “D” que o representa o gatilho da destruição.
No processo de resistência que ainda cabe ao setor, parece-me válido apoiar-se naquela peça publicitária que dizia: “não basta apenas ser pai para proteger, pois o importante é se comprometer, participar”. Ou seja, a visão de futuro cabível diante da adversidade sustenta a tese que ainda me move: defender que a cultura precisa ser restaurada na sua amplitude, e difundida noutro nível de comprometimento. Neste caso, diante de uma sociedade hoje cética, pelo mal que o governo gerou e destinou para as produções, em geral.
Assim, para início de uma nova conversa, cabe-me explicar melhor essa nova realidade em 4 D e simular o futuro desejado, mesmo que a produção cultural esteja tão mutilada. Na pegada da essência que dá nome à revista, SERÁ isso mesmo? E o que SERÁ, que SERÁ, em termos de futuro?
Se SERÁ isso mesmo, respondo a partir da situação atual, onde não tenho como dizer algo diferente que não seja “uma resistência dada por um fio”, neste que já se reconhece como o pior momento da história recente da cultura brasileira. Os avanços alcançados, e o que se tinha em conta, na forma de correções de rumo e novas conquistas, foi tudo desperdiçado em 4 anos. Foram “40 anos em 4″. No meio do caminho dos suados triunfos, hoje há um buraco quase intransponível. Um meteorito de sanha avassaladora, ignorante no conhecimento e deletéria no enfrentamento, pôs todo um setor econômico em contexto de tragédia.
E o que SERÁ que SERÁ do futuro? Superada a intenção de um golpe mortal que poderia ser desferido em caso de continuidade desta política, não há outro caminho diferente que não aponte para duas saídas interligadas: a retomada do padrão produtivo do setor cultural e o resgate da sua imagem, tão maculada por mentiras e agressões destruidoras.
Para essas duas situações vexatórias, às quais foram submetidas as atividades culturais, por conta de políticas públicas escorchantes, cabem os versos de Chico: “o que não tem governo e nem nunca terá…o que não tem juízo.”
Essas questões irei esclarecer melhor em textos sucedâneos. Com a devida correspondência do grupo editor.
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