“Tudo que existe em mim de amor foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
De nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado”.
Paulo Mendes Campos.
Domingo azul do mar, disse o poeta. Como agora sou de rio, acordo e olho o Capibaribe. Depois, converso com meu filho. Craque em marketing social. Em seguida ao café, tomo o carro com Conceição e meu neto. Vamos à avenida Dantas Barreto.
O que fazer lá, num domingo ? Procurar camiseta da seleção argentina. Sou continental, latino-americano. Afilhado de Francisco, primo musical de Piazzolla. Descendente de versos de Borges.
Pergunto, busco, ando, o padrão tradicional. Camisa 10, se possível. Calor danado. Nada.
– Não tem meu querido, acabou. A não ser esta que é moderna.
Alonguei a vista. Um azul quase em branco, repetido, pensei nos cartemas de Aloísio. O emblema da AFA no peito. Cravei.
Voltamos. Torcedores. Soy loco por ti, America, canção de Gilberto Gil e Capinan. Gravada originalmente por Caetano Veloso. “Espuma branca, o céu como bandeira, o corpo cheio de estrelas, esse país, esse tango, esse rancho”.
Final da tarde, leio sobre a diplomação dos eleitos, amanhã, pelo TSE. Parei a leitura. Fui até a janela. Vi a tarde fluvial. O cotidiano transparente. Refletindo, além, ações weberianas, institucionais. Resistentes. Fiquei pensando. Foram dois meses intensos. Brasileiramente enfáticos. Luminosos. Sol armorial.
A solenidade de amanhã não é apenas futuro. É um tempo tríbio, como escreveu Gilberto Freyre. É passado, no resgate da credibilidade da urna eletrônica. É presente, na emissão de certidão da maioria de votos. Que confere o poder legítimo. E é futuro, na obra de reconstrução de terra arrasada. Desconstruída. Não só nos fazeres. Mas nos sentimentos. É hora de trazer de volta o afeto. O sentido de solidariedade. De corrigir a desigualdade social.
Outra coisa: a presença da mulher no governo. Como o senso de feminilidade faz falta ao poder. Como a intuição feminina preenche lacunas abertas pela auto-suficiência masculina. Como as mulheres percorrem, com talento e audácia, caminhos de construir. Como são mestras. Torço por muitas mulheres no ministério. Na Educação, na Saúde, na Cidadania, na Cultura. Já pensaram ?
Lembrei de versos de Walt Whitman: “E digo que é tão grande ser mulher como ser homem. E digo que não há nada maior do que ser a mãe dos homens”.
A nação caminha, passo a passo, na direção de seu destino. E o melhor é que tal destino foi traçado pelos próprios brasileiros. Na vontade iluminada, de todos e de cada um, formando uma querência. Um querer. Um clamor. Um dever. Um amor.
Amanhã, não serei professor nem aluno. Não serei preto nem branco. Não serei liberal nem social-democrata. Serei simplesmente, cidadão brasileiro.
Os raios de sol anunciaram o arrebol. Voltei a Paulo Mendes Campos
“Era tarde redundante. Longe vestígio em meigo pergaminho.
Refluir azul de mar distante. Era uma tarde estática de Deus.
A boca da noite de mansinho …
E a tarde anil rendeu a alma. Adeus.”
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